27 de novembro de 2010
água, pedra e sal
Que é simples marfim
Nesse chão principal
Há algo no animal que não tem a perder
Já que o prazer de viver
É água, pedra e sal.
23 de novembro de 2010
Resposta
Poetisa não. Poeta!
Com toda a minha loucura
e esta eterna ternura
que coabitam minha calma.
Ora Jean Cocteau,o papel funcional da poesia
é aliviar os poetas das dores e desilusões que seriam desaproveitadas.
Quem disse que não é arte escrever sobre a alma?
22 de novembro de 2010
Asu, carne de cachorro
A questão é que, ao mesmo tempo em que a gente ficava muito feliz com aumento da família, sabíamos que o trabalho em Timor já estava no fim e, querendo ou não, contávamos os dias para voltar para o Brasil. A alegria logo se transformou também em preocupação, já que neste país não se costuma criar cães como animais de estimação, e a gente sabe o que isso significa na vida dos bichos.
Na madrugada de sábado para domingo, Grazi ouviu uns grunhidos da cadela e no dia seguinte a barriguinha da danada estava mesmo vazia.
- Eu cho que Dulcinéia deu cria.
- Que é isso, moça, eu não vi nem um filhote no jardim.
Mas foi só eu ir cortar as folhas da bananeira pra bichinha aparecer aos latidos e saltitante, fazendo que ia correr, como se quisesse me mostrar alguma coisa. E foi, no meio dos entulhos da dispensa, num local mais quieto e quentinho, estavam lá, as cinco bolinhas de pelo dela.
Na segunda-feira, amanheci decidida a encontrar um novo lar para os filhotes quando topei com a professora Maria na Escola.
- Professora, minha cachorrinha deu cria. Estou tão preocupada, porque não tenho com quem deixar. A senhora não sabe quem gostaria de ter cachorrinhos?
- A professora pode deixar todos comigo.
Fiz cara de surpresa.
- Mas ficar com todos?
- Eu tenho uma casa grande em Liquiça, cheia de crianças, pode deixar.
- Ah, então antes de ir embora tenho que dar um jeito de ir até às montanhas pra deixá-los na sua casa.
- Não precisa, professora, pode deixar que venho buscar em Díli.
Pois num é que consegui resolver o caso ligeirinho? Cheguei em casa, pus comida pros cachorros...
- Oh, Graziela, será que a D. Maria de Fátima come cachorro?
21 de novembro de 2010
Impávido
Jogue fora o embaraço.Não durma!!! Seja de aço (para viver o que não viveu).
Sempre há muito o que saber;
sim,"todos um dia vamos morrer",
mas não pense nisso agora!
Então,corra como o vento,
aproveite o seu momento,
desfrute a sua hora!
20 de novembro de 2010
do lado que não se mostra
do verso e da prosa
de noites sem dormir...
aquela que era encanto
hoje é desejo e pranto
saudade sem esperança
numa mulher,uma criança
uma dança que eu nunca vi.
um braseiro de vontade
calmaria em tempestade
de amor em solidão
o poema inacabado
o verso que entorna o fado
o rosto triste que abriga os olhos
do espírito despedaçado...
sem nome
A vida passa...e eu dou-lhe "bom-dia" à janela,na padaria...salve o pão de cada dia!!
Bendita seja toda loucura,dessa minha tola procura por coisa que não existe,abandonada.
Hoje sou mais lobisomem que sereia,encontrei meu recanto à lua cheia e uivo de nostalgia.
Gastando a vida na tentativa de ser um dia,algo que comigo não combinaria.
Se sou urso polar,o mundo vira Atlântico Sul.
Se sou Pólo Norte,o mundo vira pinguim!
E vagando pela vida assim,uma soma de eu mais não sei quem...
Uma procura que não tem fim.
19 de novembro de 2010
18 de novembro de 2010
A CARTA DA TERRA
A CARTA DA TERRA
16 de novembro de 2010
QUANDO SECAR O RIO DE MINHA INFÂNCIA (poema)
QUANDO SECAR O RIO DE MINHA INFÂNCIA
SECARÁ TODA DOR.
QUANDO OS REGATOS LÍMPIDOS DO MEU SER SECAR,
MINH'ALMA PERDERÁ SUA FORÇA.
BUSCAREI, ENTÃO, PASTAGENS DISTANTES
- LÁ ONDE O ÓDIO NÃO TEM TETO PARA REPOUSAR.
ALI, ERGUEREI UMA TENDA JUNTO AOS BOSQUES,
TODAS AS TARDES ME DEITAREI NA RELVA,
E NOS DIAS SILENCIOSOS FAREI MINHA ORAÇÃO:
MEU ETERNO CANTO DE AMOR: EXPRESSÃO PURA DE MINHA
MAIS PROFUNDA ANGÚSTIA
NOS DIAS PRIMAVERIS, COLHEREI FLORES
PARA MEU JARDIM DA SAUDADE.
ASSIM, EXTERMINAREI A LEMBRANÇA DE UM PASSADO SOMBRIO.
(PARIS, 12 DE OUTUBRO DE 1972. POEMA DE FREI TITO DE ALENCAR, ENCONTRADO DEPOIS DE SUA MORTE NO QUARTO ONDE MORAVA. UM JOVEM FRADE, ALEGRE, BEM-HUMORADO, É PRESO DOIS MESES DEPOIS DE COMPLETAR 24 ANOS, ACUSADO DE SUBVERSÃO. TORTURADO IMPLACAVELMENTE, FREI TITO NUNCA MAIS CONSEGUIRIA APAGAR DO CORPO - E DA ALMA - AS MARCAS DA CRUELDADE DE QUE FOI VÍTIMA. SUA MORTE FICOU PARA A HISTÓRIA COMO UM DOS CAPÍTULOS MAIS CONTUNDENTES DO TERROR PATROCINADO PELA DITADURA MILITAR BRASILEIRA. EXTRAÍDO DO LIVRO "FREI TITO" DE SOCORRO ACIOLI. EDIÇÕES DEMÓCRITO ROCHA.)
14 de novembro de 2010
Plínio de Arruda Sampaio lança livro na próxima quarta-feira.
Em debate de lançamento, Plínio discutirá algumas questões centrais de seu novo livro, como: quem são os políticos brasileiros? Por que é importante acompanhar os projetos políticos? Como construir atitudes coletivas?
Na próxima quarta-feira, dia 17 de novembro, Plínio Arruda Sampaio lança o livro "Por que participar da política?", pela Editora Sarandi. Com direito a uma palestra do autor, o lançamento terá início às 19h30, na sede do Sindicato dos Professores da Rede Estadual de São Paulo (Praça da República, 282 – Centro/SP, ao lado do metrô).
O livro aborda a formação do Estado brasileiro, os sistemas de governo parlamentarista e presidencialista, a Nova República e os impactos cotidianos da ação política na vida dos brasileiros. Dividido em sete capítulos distribuídos em 64 páginas, a brochura é um convite a que os leitores, especialmente a juventude, conheçam e participem da vida política nacional. O questionamento central da obra é: “o que perdemos por nos desinteressar da política e o que ganhamos procurando entendê-la?”
Aos 80 anos e após percorrer o Brasil de Norte a Sul como candidato do PSOL à presidência da República em 2010, Plínio reitera neste livro seu apreço à organização dos trabalhadores para construir um projeto de superação das mazelas que marcam a história de nosso país – a segregação social e a dependência externa – e avançar em direção ao socialismo.
Plínio Sampaio também é autor de "O capital estrangeiro na agricultura" (1977), "Construindo o Poder Popular" (1982), “O Brasil pode dar certo” (1994), "O que é corrupção" (2010) e dezenas de artigos sobre a realidade brasileira.
10 de novembro de 2010
GRITO DE UMA GUERREIRA
Senti o peso do Estado sobre mim;
Senti o peso do Judiciário sobre mim;
Senti o peso do agronegócio da cana-de-açúcar, que não tem nada de doce, sobre mim;
Em alguns momentos a Cruz também pesava sobre meus ombros.
Qual o mal que eu fiz?
Será que é porque eu sou uma pescadora artesanal?
Será que é pelo fato de nascer e me criar em terras públicas e não ter o título de propriedade?
Será que é pelo fato de não aguentar ver os peixinhos, os caranguejos e os siris mortos pelo vinhoto fedorento da usina e ter que denunciar incansavelmente?
Porque querem tirar das ilhas eu e minha irmã, igual tiraram as 51 famílias que aqui viviam?
Porque querem cortar nossas raízes?
Porque querem nos des-terrar e nos des-águar?
Vocês sabiam que um peixe não vive foram d'água e nem a gente fora do manguezal?
É por isso que vários já morreram depois que foram expulsos das ilhas!
É por isso que Dona Antônia todo os dias sonha com as ilhas! Ela teve derrame e pede todos os dias para Deus levá-la. Dona Cosma também teve derrame!
É por isso que Seu Ivanildo, Dona Antônia, Seu Cavoeiro, Dona Zeza… tomam comprimido para pressão, hábito que não tinha quando moravam nas ilhas.
Será que querem nos matar?!
“Quem me matou foi a usina quando me tirou das ilhas”, uma vez respondeu pra mim Dona Antônia.
Estou sendo obrigada a sair das ilhas, eu e minha irmã.
Não me imagino fora daqui!
Não quero ir para a rua passar fome como os que foram expulsos!
A única coisa que a usina promete e cumpre é a nossa expulsão e uma vida de miséria.
Senti o peso do Estado sobre mim;
Senti o peso do Judiciário sobre mim;
Senti o peso do agronegócio da cana-de-açúcar, que não tem nada de doce, sobre mim;
Em alguns momentos a Cruz também pesava sobre meus ombros.
VOLTO!
VOLTAREMOS!
VAMOS VOLTAR!
SIM, SOU GUERREIRA DAS ILHAS!
Recife, 09 de novembro de 2010.
Dia em que tudo se preparava para a retirada de Maria de Nazareth e Maria das Dores (Graça) das ilhas de Sirinhaém, lugar em que outras 51 famílias também viviam e foram expulsas pela Usina Trapiche. Nazareth e Graça nasceram e se criaram na Ilha Constantino.
Comissão Pastoral da Terra - NE II
Setor de Comunicação e documentação
Contatos: (81) 9663.2716/ (81) 3231.4445
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4 de novembro de 2010
O porquê da violência
O preconceito não tem apenas um lado antagônico, trata-se de uma artimanha de nossa mente, construída pelo medo e que, provavelmente, já nos livrou de muitas enrascadas durante toda a vida. A falta de preconceito, no entanto, tem muito mais a ensinar. Nós nos preparamos para o assalto, e logo em seguida recebemos um gentil “Boa noite!”, estávamos em Díli, capital do Timor-Leste.
Apesar de Timor ter passado recentemente pela violenta dominação indonésia (que durou 25 anos) e de ter sido reconstruído praticamente do zero a dez anos atrás, sua população se alimentar praticamente todos os dias apenas de arroz e alguns poucos vegetais, Timor-Leste não é um lugar perigoso para se viver.
Com incríveis marcas de até quatro assassinatos por mês para uma população de mais de 200 mil habitantes na capital, me sinto profundamente constrangida de ser natural de uma cidade com quinze assassinatos por final de semana. E o pior é saber que Fortaleza não é a cidade mais violenta do Brasil.
Como professora, muitas coisas aprendi no meu fazer docente, Timor-Leste tem me ensinado bastante sobre o valor da vida, mas saio daqui, aliás, como muitos brasileiros que vivem no exterior, com total horror a nossa violência. Sendo esta uma das principais razões para, mesmo estando em lugar muito pobre e que praticamente só possui um hospital em condições mínimas de atendimento, não ter shoppings centers, fast foods, etc. meu coração se bambear para não querer voltar ao Brasil.
Certamente, alguns estão se perguntando qual o segredo deste lugar, mas eu não tenho respostas fundamentadas em dados científicos. Mas uma coisa eu tenho certeza, que isto não acontece por conta do contingente policial existente, até porque, como tudo em Timor, este ainda está engatinhando e o que se vêem são apenas carros das Nações Unidas passando nas poucas ruas principais que existem. Aponto, entretanto, algo que é a maior característica do povo timorense: o amor aos seus valores culturais. E a cultura timorense compreende paciência, respeito quase que religioso aos mais velhos e um senso de coletividade que eu nunca vi igual e que as crianças aprendem desde pequenas.