23 de abril de 2009

BARRIGA DE FORA

Mãe,
Por que não me deixaste a vida inteira
Com lã no umbigo,de castigo,na soleira
Roendo unha e falando palavrão?
Ô mãe
Eu tava me esfregando com urtiga
Esmagando crânios de formiga
Com um pau de sorvete esburaquei o chão
Mãe,
Por que não me deixaste a vida inteira
Esperando a hora da senhora vir da feira
Pra mandar o medo ir lamber sabão?
Ô mãe,
Eu acho que engoli um parafuso
O mundo todo anda tão confuso
Eu queria tanto a tua mão
Mãe,
Vê se me desculpa a choradeira
Mas é que foi no melhor da brincadeira
Que a senhora me mandou crescer
Mãe,
Hoje eu já não deixo o nariz sujo
Já não coleciono caramujo
Mas ainda preciso de você
Mãe,
Por que ficaste assim a vida inteira
Cuidando pra que eu não batesse a moleira
Se era pra apanhar da vida então
Ô mãe,
Por que a gente ainda se utiliza
De limpar os sonhos nas mangas da camisa
De cortar os pés nos cacos de ilusão
Mãe,
Mandaste que eu não tomasse gelado
Me ensinaste a não ser mal educado
Me levaste à escola pela mão
Ô mãe,
Cuidaste bem da minha catapora
Hoje sou homem forte e agora
Posso seguir a minha solidão

Kléber Albuquerque

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