30 de abril de 2009

VOCÊ

Você alguma vez se perguntou por quê?
Faz sempre aquelas mesmas coisas sem gostar?
Mas voce faz, sem saber porquê,
você faz!E a vida é curta.
Por que deixar que o mundo
lhe acorrente os pés?
Finge que é normal estar insatisfeito
Sera direito, o que voce faz com você?
Por que voce faz isso por quê?
Detesta o patrão no emprego
Sem ver que o patrão sempre esteve em você
E dorme com a esposa por quem ja não sente amor
Sera que é medo?Por quê?
Você faz isso com você?
Por que você não pára um pouco de fingir?
E rasga esse uniforme que você não quer...
Mas você não quer, prefere dormir e não ver
Por que você faz isso por quê?
Detesta o patrão no emprego
Sem ver que o patrão sempre esteve em você.
E dorme com a esposa por quem ja não sente amor
Sera que é medo?Por que você faz isso com você?
Por que cara?
Mas você não quer
prefere dormir e não ver
Por que você faz isso! Por quê?
Sera que é medo?
Por que você faz isso com você?
Você faz isso com você.

RAUL SEIXAS E CLÁUDIO ROBERTO

Letra retirada do álbum "O dia em que a Terra parou" de 1977.

DIA DE LUTA


29 de abril de 2009

POEMA DE VLADIMIR MAIAKOVSKI*

Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.


* MAIAKOVSKI, POETA MODERNO, CRIATIVO E SENSÍVEL AOS MOVIMENTOS SOCIAIS, QUE ENTOOU A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO. SEU LEMA ERA:"SEM FORMA REVOLUCIONÁRIA NÃO HÁ ARTE REVOLUCIONÁRIA".

27 de abril de 2009

GENTILEZA

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca
Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza
Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria
O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta

Marisa Monte(ao profeta Gentileza)

ABC DO PREGUIÇOSO

Marido se alevanta e vai armá um mundé
Prá pegá uma paca gorda
prá nóis cumê um sarapaté
Aroeira é pau pesado num é minha véia
Cai e machuca meu pé
e ai d´eu sodade
Marido se alevanta e vai na casa da tua avó
buscáA ispingarda dela procê caçá um mocó
Só que no lajedo tem cobra braba num é minha véia
Me morde e fica pió
e ai deu sodade
Entonce marido se alevanta e caçá uma siriema
Nóis come a carne dela
e faiz uma bassora das pena
Ai quem dera tá agora num é minha véia
Nos braço duma roxa morena
e ai d´eu sodade
Sujeito alevanta e vai na casa do venderão
Comprá uma carne gorda prá nois fazê um pirão
É que eu num tenho mais dinheiro num é minha véia
Fiado num compro não
e ai d´eu sodade
Ô marido se alevanta e vai na venda do venderim
Comprá deiz metro de chipa prá fazê rôpa pros nossos fiim
Ai dentro tem um colchão véio num é minha véia
Desmancha e faiz umas carça prá mim
e ai d´eu sodade
Disgramado se alevanta, deixa de ser preguiçoso
O homi que num trabáia num pode cumê gostoso
É que trabáia é muito bom num é minha véia
Mas é um pouco arriscoso
e ai d´eu sodade
Ô marido se alevanta e vem tomá um mingau
Que é prá criá sustança prá nóis fazê um calamengal
Brincadêra de manhã cedo num é minha véia
Arrisca, quebrá o pau
e ai d´eu sodade
Marido seu disgraçado tu ai de morrê
Cachorro ai de ti lati e urubu ai de ti cumê
Se eu subesse disso tudo num minha véia
Eu num casava cum ocê
e ai deu sodade

Xangai

MATANÇA





OU DESTRUIREMOS O CAPITALISMO, OU O CAPITALISMO DESTRÓI A NATUREZA, A VIDA, O PLANETA...

26 de abril de 2009

DISCURSO DA IRA

Os pobres estão se evaporando
à vista de todos.
O tempo vai passando
os pobres vão se decompondo
seus rostos são apagados pelo vento
e da memória dos computadores
até que ninguém se lembre
mais de suas caveiras sorridentes
afugentando os parasitas dos burocratas
nas repartições públicas.

Os pobres estão sumindo
aos olhos de todos.
O tempo os vai tornando
cada vez mais parecidos com a morte.
Enquanto isso, os poderosos
sacodem suas nádegas fotogênicas


fazem belos discursos para a distinta platéia
e afagam avidamente as orquídeas.

Francisco Carvalho

POEMA PARA ESCREVER NO ASFALTO

Agora eu sei o quanto basta à ceia do coração
e o quanto sobra do naufrágio
das nossas utopias.

Agora eu sei o que significa a fala dos mortos
e esta parábola soterrada
que jorra das veias da pedra.

Agora eu sei o quanto custa o ouro das palavras
e este pacto de sangue
com as metáforas do tempo.

Agora eu sei o que se passa no coração de treva
e do homem que morre mendigando
a própria liberdade.

Agora eu sei que o pão da terra nunca foi repartido
com a nossa pobreza
e com a solidão de ninguém.

Agora eu sei que é preciso agarrar a vida
como se fosse a última
dádiva colocada em nossas mãos.

Francisco Carvalho - Grande poeta do interior cearense

25 de abril de 2009

É NATAL

É natal:
Tem gente faminta;
Tem homem desempregado;
Tem mulher se prostituindo:
Tem político roubando;
Tem criança no sinal;
Tem velho morrendo na fila do hospital público;
Tem presidente mentindo;
Só não tem louco fingindo ser Jesus.

(William Rodrigues)

24 de abril de 2009

DE QUE COR SERÁ SENTIR?

Afinal
De que cor será sentir?
Será que o amor
Tem uma cor?
Será vermelho
O ódio?
Será branca
A paz
Sendo negra
A morte
De que cor
Será a vida?
Sendo negra a fome
Qual a cor da fartura?
Sendo negra a realidade
Qual a cor da ilusão?
Sendo negra a cor que tinge
Presídios,hospícios
Qual a cor da opressão?
(Hélio de Assis)

23 de abril de 2009

BARRIGA DE FORA

Mãe,
Por que não me deixaste a vida inteira
Com lã no umbigo,de castigo,na soleira
Roendo unha e falando palavrão?
Ô mãe
Eu tava me esfregando com urtiga
Esmagando crânios de formiga
Com um pau de sorvete esburaquei o chão
Mãe,
Por que não me deixaste a vida inteira
Esperando a hora da senhora vir da feira
Pra mandar o medo ir lamber sabão?
Ô mãe,
Eu acho que engoli um parafuso
O mundo todo anda tão confuso
Eu queria tanto a tua mão
Mãe,
Vê se me desculpa a choradeira
Mas é que foi no melhor da brincadeira
Que a senhora me mandou crescer
Mãe,
Hoje eu já não deixo o nariz sujo
Já não coleciono caramujo
Mas ainda preciso de você
Mãe,
Por que ficaste assim a vida inteira
Cuidando pra que eu não batesse a moleira
Se era pra apanhar da vida então
Ô mãe,
Por que a gente ainda se utiliza
De limpar os sonhos nas mangas da camisa
De cortar os pés nos cacos de ilusão
Mãe,
Mandaste que eu não tomasse gelado
Me ensinaste a não ser mal educado
Me levaste à escola pela mão
Ô mãe,
Cuidaste bem da minha catapora
Hoje sou homem forte e agora
Posso seguir a minha solidão

Kléber Albuquerque

21 de abril de 2009

ZUMBI

Clássico de Jorge Ben Jor na voz de Mariana Baltar que celebra a força da cultura afro-brasileira através de Zumbi, guerrilheiro de Palmares Livre.

VIRAMUNDO

Sou viramundo virado
Na ronda das maravilhas
Cortando a faca e facão
Os desatinos da vida.
Gritando para assustar
A coragem da inimiga
Pulando pra não ser preso
Pelas cadeias da intriga
Prefiro ter toda vida
A vida como inimiga
A ter na morte da vida
Minha sorte decidida.
Sou viramundo virado
Nesse mundo do sertão
Mas inda viro este mundo
Em festa trabalho e pão.
Virado será o mundo
E viramundo verão
O virador deste mundo
Astuto, mau e ladrão
Ser virado pelo mundo
Que virou com certidão
Ainda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão.

( Capinam)

20 de abril de 2009

RESSUMBRO

Sonhando em sonho,
estava acordado.
Acordei,
e estava mergulhado.
Mergulhando, me molhei
e transpirei, parei
em teu corpo suado.

Em devaneios viajei.
Num capricho real, delirei.
No galope, era galopado
tranquilo, imóvel, domado.
Em viagem retornei
e me vi estacionado
Molhado
em teu corpo suado

(Delta do Parnaíba)

19 de abril de 2009

UMA CARNIÇA


Lembra-te, meu amor,
do objeto que encontramos
Numa bela manhã radiante:
Na curva de um atalho,
entre calhaus e ramos,
Uma carniça repugnante.
As pernas para cima,
qual mulher lasciva,
A transpirar miasmas e humores,
Eis que as abria desleixada e repulsiva,
O ventre prenhe de livores.
Ardia o sol naquela pútrida torpeza,
Como a cozê-la em rubra pira
E para ao cêntuplo volver à Natureza
Tudo o que ali ela reunira.
E o céu olhava do alto
a esplêndida carcaça
Como uma flor a se entreabrir.
O fedor era tal que
sobre a relva escassa
Chegaste quase a sucumbir.
Zumbiam moscas sobre
o ventre e, em alvoroço,
Dali saíam negros bandos
De larvas, a escorrer como
um líquido grosso
Por entre esses trapos nefandos.
E tudo isso ia e vinha,
ao modo de uma vaga
Ou esguichava a borbulhar,
Como se o corpo, a estremecer
de forma vaga,
Vivesse a se multiplicar.
E esse mundo emitia
uma bulha esquisita,
Como vento ou água corrente,
Ou grãos que em rítmica
cadência alguém agita
E à joeira deita novamente.
As formas fluíam como um
sonho além da vista,
Um frouxo esboço em agonia,
Sobre a tela esquecida,
e que conclui o artista
Apenas de memória um dia.
Por trás das rochas irrequieta,
uma cadela
Em nós fixava o olho zangado,
Aguardando o momento
de reaver àquela
Náusea carniça o seu bocado.
- Pois hás de ser como
essa infâmia apodrecida,
Essa medonha corrupção,
Estrela de meus olhos,
sol de minha vida,
Tu, meu anjo e minha paixão!
Sim! tal serás um dia,
ó deusa da beleza,
Após a benção derradeira,
Quando, sob a erva e as
florações da natureza,
Tornares afinal à poeira.
Então, querida, dize à
carne que se arruína
Ao verme que te beija o rosto,
Que eu preservei a forma e
a substância divina
De meu amor já decomposto!

Charles-Pierre Baudelaire
(Tradução de Ivan Junqueira)


Dedicado ao Pádua, com muito carinho...

16 de abril de 2009

INVENTÁRIO

Arrolados todos os bens, no formal da partilha,
deixo terras de continentes e ilhas conhecidas
aos mercadores, aos banqueiros, aos corretores,
aos agiotas, ratos de usura, ladrões públicos,
negociantes e negocistas- são a mesma coisa-
e seus parceiros da raça de Caim.

A Portugal e Espanha deixo os mares
o Atlântico para suas velas redondas e latinas
o Pacífico para que o descubra Balboa
e os oceanos da Índia e o mar da China
e ali
alarguem o mundo e juntem
os mundos do planeta;

Deixo a cada um de seus homens
a coragem de morrer - a coragem de Abel- Caim não teve,
e só a quem ousa a bravura de morrer
é lícita a virtude, a coragem limpa de matar.

Deixo a cada um de seus varões
umas armas de fogo e ferro frio
e gosto para usá-las- em grito d'armas: a espada
do Capitão José de Barros Lima, o Leão Coroado- a forca
do Padre Tenório e de Domingos Teotônio Jorge
que não temia a morte - e só
temia a posteridade- e deixo ao seu irmão Vigário
as postas de carne do alferes esquartejado.

E deixo o frade, poeta e professor de Geometria
Frei Joaquim do Amor Divino Caneca
do Ceará às Alagoas
cantando sonetos para sempre ao pé do cadafalso
na praça das Cinco Pontas aos poetas do país.

Deixo o campo da Pólvora aos arcabuzados de Fortaleza
os capitães das armas e o Padre Gonçalo Inácio
de Albuquerque Mello - dito Mororó
ao seu coração varado e os dedos decepados a bala.

Deixo a Abdias e os seus a cabeça degolada do rei morto
dito Zumbi, lavada pelas mulheres de sua raça
nas águas do rio Mundaú, União dos Palmares, Alagoas.

Um marechal mandou desenterrar
o corpo do Padre João Ribeiro
degolar o cadáver e espetar a cabeça por dois anos
no Pelourinho do Recife - deixo esta cabeça - por grinalda
à cidade noiva da revolução, aos Barros Mello
e aos ribeiro Mello (raça minha)
a cabeça ao luar- sua açucena- ao sol
estrela da manhã no azul do azul do céu
entre o firmamento e o mar.

Deixo o Pelourinho da Bahia à flor do sangue
do peito do Padre Miguelinho e Domingos José Martins
e Antônio Henriques e os outros
entre arcabuzes de 17 - e deixo as ruas ensanguentadas
aos enforcados esquartejados ao galope dos cavalos do rei
Francisco Peregrino e Amaro e os Albuquerques
também de 17 e os outros.

E deixo a todas as Américas esses Abreus e Limas
os olhos do Padre Roma sozinho em sua jangada
lendo seus salmos desde o mar de Olinda
passando pelas Alagoas para levantar os povos
chegou a Salvador para levantar a Bahia
onde o Conde dos Arcos levantou patíbulo:
o padre insurrecto engoliu os papéis com os nomes dos patriotas
e foi executado diante dos dois filhos na Praça do Pelourinho:

deixo a todos os pais, todos os filhos,
os olhos do fim do olhar desse pai, desses filhos,
na hora do arcabuz- e esse olhar um dia se fez chama
no rosto brasileiro do General Bolívar
nos Ayacuchos da libertação.

E deixo aos senhores de engenho o cepo de aroeira
em que foi cortado o pescoço da cabeça
de Manuel Bequimão no Maranhão.

Deixo ao campanário de todas as igrejas
dobres de sinos e aleluias pelos trezentos e sessenta padres
arcabuzados e enforcados
nas revoluções do Nordeste- e deixo
em missa solene e ofícios de matinas
um lírio de marfim - no rosto de Joana Angélica,
a bela abadessa atravessada a espada
pelo sargentão madeira,
ao defender com seu corpo o portal do Convento da Lapa
a honra de suas monjas e a independência da Bahia.

Deixo pâmpanos e pampas e coxilha e fronteira
aos dois Bentos do Rio Grande,
à glória de seus Farrapos
aos que perderam as batalhas mas salvam a honra
dos heróis que aguentam
pelear em retirada e com pouca munição.

Não deixaram ao alferes
nem mesmo seu boticão
mas eu, poeta, deixo,
a cada vivo seu morto,
e a cada morto um caixão
uma campina no campo
na cidade um quarteirão,
seja macho, seja fêmea,
seus sete palmos de chão,
memória de vida e morte
com seu nome e seu brasão.

Deixo à raça de Caim a herança de Caim.

Autor: Gerardo Mello Mourão em "A Invenção do Mar".

DISCURSO

E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?


Cecília Meireles

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança, tão simples,
tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles

15 de abril de 2009

ASSIM NÃO DÁ

Assim não dá,não dá/assim não dá
Famílias passando fome
Sem ter onde trabalhar!

E lá na roça, e na periferia
família injustiçada sofrendo todo dia/
Jovens drogados, crianças barrigudas
Os pais sofrendo muito
gritando Deus nos acuda.

Lá na cidade os grandes, com suas mansões
Seus carros luxuosos, isso é vida de barão
Tendo merenda para os filhos toda hora
Piscina todo dia e ainda boa escola.

Para mudar essa tal situação
É preciso que o povo
Junte as forças na união
Comece logo a se organizar
Gritando por seus direitos
Para um dia transformar.

João Miguel (BA)

14 de abril de 2009

AO INTERNACIONALISTA CHE GUEVARA

NO VÍDEO QUE VOCÊ VAI ASSISTIR NATHALIE CARDONE* CANTA O SEU MAIOR SUCESSO. TRATA-SE DE UMA EMOCIONADA HOMENAGEM AO REVOLUCIONÁRIO INTERNACIONALISTA, ERNESTO "CHE" GUEVARA.




*Atriz francesa que contracenou ao lado de Gérard Depardieu e Catherine Deneuve no filme drole d'endroit pour une rencontre.

13 de abril de 2009

COM LICENÇA POÉTICA

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.
Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado



Sinto-me muitas vezes como a autora do poema, identifico-me principalmente com os seguintes versos: "ora sim, ora não, creio em parto sem dor." E por que estes versos? Porque não há nada mais duvidoso do que o parto sem dor, se não dói na hora do parto, dói a vida inteira e não é dor de desprazer é dor de aprender todo novo dia a ser mãe e assim cumprir a missão de ser desdobrável, de ser mãe, mulher, amante... indefinida e somos nós, mulheres, assim... indefinidas.

12 de abril de 2009

A CRISE

A crise econômica mundial
É a Crise do neoliberalismo
Do caráter do capitalismo
Sistemática e estrutural.
Na exploração ele é genial,
Causa fome e miséria no planeta
Cada dia a coisa tá mais preta
O desemprego tá na casa de um milhão
É sinal que a cada dia fica claro
Que o Brasil já está na recessão.

A crise é de superprodução
Fechamento de empresa e falência.
Alimenta, estimula a violência,
E o flagelo que vem com a demissão.
E o sistema nunca vai abrir mão
Cada vez explora os trabalhadores
Que já sentem as augura e os horrores
Não exagero na percepção.
É sinal que a cada dia fica claro
Que o Brasil já está na recessão

Já tem crise na China e na Europa,
E também nos Estados Unidos
Por demais se acham prevenidos
se valendo sempre da sua tropa,
Lá na França a moçada enfrenta e topa
E assim vai buscando uma saída,
Pois, acima de tudo está à vida
Se a burguesia a esta só diz não,
É sinal que a cada fica claro
Que o mundo já está na recessão



Francisco de Assis Tiquinho

Barbalha - Ceará

11 de abril de 2009

CIDADE EM MOVIMENTO O PODER DE MOBILIZAÇÃO

CIDADE EM MOVIMENTO

O poder e a importância de mobilização

O curso Cidade Em Movimento promovido pela a ONG Cearah Periferia nos provou a questionar:
Quem está movimentando a cidade? Quais os interesses? E aonde querem chegar? Pois, toda ação, que movimenta, tem objetivos. E nós militantes de movimentos sociais, como participamos dessa cidade em movimento? Temos clareza do que estamos construindo? Aonde chegaremos? Qual o nosso poder de mobilização? Aliás, mobilizamos por quê? Pra quê? Pra quem?

A mobilização é essencial para construirmos uma cultura de lutas coletivas com a participação popular direta. Uma verdadeira contracultura. Porque o sistema capitalista nos impõe uma visão de personalizar um herói ou uma heroína como salvador (a) da pátria. O povo deve ficar de braços cruzados esperando alguém que o represente, seja, um governante, parlamentar ou um líder comunitário.

Mobilizar numa cultura de política representativa é difícil, porém, não impossível. Para mobilizar é preciso que as pessoas envolvidas tenham objetivo em comum, se identifiquem com as reivindicações. Porque então que no plano diretor participativo de Fortaleza conseguimos mobilizar muitas comunidades de ocupações? Ora, porque o que estava em jogo era as ZEIS (zonas especiais de interesses sociais) que garante o direito a terra para moradia popular. E foi através da unidade do campo popular formado por NUHAB e vários movimentos sociais que tivemos conquistado algumas vitórias importantes, mesmo que para isso tivemos que ceder em outras reivindicações, no entanto se não tivéssemos mantido essa unidade teríamos perdido muito mais.
Mas porque que nas audiências públicas e nos dias de votações do plano diretor na câmara municipal de vereadores não bastavam apenas um representante de cada entidade? Porque é importante a participação das comunidades como parte do processo de formação política. Ora, dizer: “vocês sem terra, sem moradia, sem emprego fiquem em casa, assistindo a novela vale a pena ver de novo que EU vou lutar por vocês. Depois EU volto para dar as boas noticias”. Isso é assistencialismo e só contribui para manter o pobre sempre mais pobre e acomodado, enquanto os ricos opressores agradecem por manter a desigualdade social.

A tarefa do movimento é orientar, animar e lutar junto com a comunidade e nunca fazer por ela. Conscientizar, organizar, mobilizar e lutar por políticas públicas com participação popular é um exercício rumo à democracia direta onde cada mulher e homem seja sujeito de sua historia. E isso só será possível em uma sociedade anti-capitalista, ou seja, no socialismo.



Carlos Alberto Ribeiro
membro do Movimento Grito de Juventude e Coordenador da Central de Movimento Populares do Ceará

10 de abril de 2009

POEMA URGENTE

Se não cuidarem
Mãos blindadas trucidarão as flores.
Os frutos serão abortados no momento da germinação.
Todos os bichos da terra ficarão órfãos.
As estrelas se despencarão no mar.
E as águas limpas serão poluídas e represadas.

A vida tem urgência de cantos ternos
Trigais maduros
Carneiros pastando
Cactos florindo.

Não podemos ficar parado.

Autora: Ester Barroso

9 de abril de 2009

SÓ DE SACANAGEM

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Tudo isso que está aí no ar,
Malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro,
Do meu dinheiro, do nosso dinheiro
Que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós,
Para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais,
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade
E eu não posso mais.
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis
Existem para aperfeiçoar o aprendiz,
Mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros
Venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro,
A luz é simples,
Regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó
E os justos que os precederam:
"Não roubarás",
"Devolva o lápis do coleguinha",
"Esse apontador não é seu, minha filha".
Pois bem, se mexeram comigo,
Com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,
Então agora eu vou sacanear:
Mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão:
“Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba”
E eu vou dizer:
Não importa, será esse o meu carnaval,
Vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos,
Vamos pagar limpo a quem a gente deve
E receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre,
Ético e o escambau.
Dirão:
"É inútil, todo o mundo aqui é corrupto,
Desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
Eu direi:
Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram?
IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo
Mas, se a gente quiser,
Vai dar para mudar o final!

Retirado do sítio: www.letras.mus.br

8 de abril de 2009

QUE SAUDADE DE VOCÊ

Está fazendo tanto tempo que eu não te vejo
Você não imagina como eu ando triste
Mas qualquer dia desses a gente se encontra
Pra falar do passado e do que ainda existe
Que saudade de você!
Que saudade de você!
Às vezes eu me lembro das coisas que a gente fazia
Nosso amor era grande e existia um caminho
Num dia sem dizer a razão, você foi embora
Não quis nem saber, me deixou tão sozinho
Que saudade de você!
Que saudade de você!
Mas ainda resta esperança de você voltar
"Que isso aconteça" eu vivo pedindo
Eu quero nesse dia esquecer esse tempo sofrido
Mostrar meu sorriso, ver você sorrindo
Que saudade de você!
Que saudade de você!
Que saudade de você!
Que saudade de você!

Autor: Odair José

6 de abril de 2009

REALISMO

FEZ UM VERSO DE AMOR.
E...
OFERECEU A UMA PEDRA.
FOI MELHOR ASSIM,
JÁ É PASSADO.

(RAZEK SERAVHAT)

5 de abril de 2009

O MUNDO MERCADOLÓGICO DA MODA

Daqueles que visualizam apenas o mundo mercadológico da moda e sua alta dosagem de glamour, fetiches e imposições estéticas, talvez fuja uma fantástica discussão a ser levantada: qual a relação existente entre arte e moda?
No meio artístico e intelectual uma enorme polêmica é gerada por essa pergunta.Definir arte é complexo. As opiniões são diversas. Algo crucial na relação da arte com a moda é: até que ponto a arte pode ser comercial? O interesse mercadológico rompe o invólucro da arte, corrompendo-a?A arte de Romero Brito, feita para vender refrigerantes em latinha deixou de ser arte ao sair do universo das telas?
As mesmas perguntas possuem, sobre o tema moda, o caimento perfeito da alfaiataria francesa. Acreditar que a moda se resume à fabricação de roupas, sapatos ou colares é um reducionismo lamentável. Crer que tendências de moda são lançadas puramente por estética segue a mesma ótica limitada. As roupas que usamos estão repletas de mensagens, se não fosse assim, não teríamos preferências em relação ao que vestimos. Isso nos mostra que cada peça de indumentária que está sobre o nosso corpo reflete a construção sócio-cultural pela qual passamos ao longo de nossas vidas.
A arte é um ótimo termômetro de transformações sociais. Ela possui a peculiar característica de perceber antes as mudanças que estão prestes a acontecer no comportamento da nossa sociedade ao questionar padrões estabelecidos, ao criticar tradições, ao chocar as pessoas com atitudes inovadoras.
Vestir arte não é novidade: Na década de 80, Leda Catunda e Leonilson utilizaram códigos da indumentária para compor seus objetos. Vinte anos antes tivemos o lendário Hélio Oiticica. Roupa pode ser arte sim!O que dizer da mini-saia? Sem entrar no mérito de quem a inventou, se o francês Courréges ou a inglesa Mary Quant, é óbvio que o que levou à criação da mini-saia foi o desejo de violar a ordem social, ela foi um protesto a apologia ao pudor feminino vigente em uma época. Não é possível desconsiderar os sentimentos geradores da criação de uma peça como a mini-saia e as conseqüências de sua criação, seu lançamento é repleto de significados sociais, culturais, políticos e artísticos, ou seja, trata-se de uma verdadeira peça de arte ousada e transgressora. Porém, o sistema capitalista apropriou-se da criação artística do ou da estilista e atualmente milhares de mini-saias são produzidas por hora com uma única finalidade: gerar lucro. A partir daí, onde fica o conteúdo artístico de tais peças? Talvez no mesmo lugar onde são armazenadas as latinhas de refrigerante decoradas por Romero Brito.
As mega indústrias do meio “fashion” que proporcionam o espetáculo dos grandes artistas nacionais e internacionais do mundo da moda, têm como principal objetivo vender. Elas são cruéis, poluem o meio ambiente, ressaltam desigualdades sociais e causam sofrimento quando impõem padrões de beleza inatingíveis. São mecenas dos atuais artistas da moda. A arte alimentada por esse tipo de relação é arte? Nos anos 60, Lygia Clark e Hélio Oiticica criavam obras artísticas que deveria ser vestidas. Hoje, grandes estilistas criam peças de roupa menos para influenciar pensamentos que para fortalecer mercados.
A diferença entre as duas situações é gritante. Talvez se trate de dois modos diferentes de produzir moda-arte.
Talvez não.

CÂNTICO NEGRO


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
(José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira)

Conheci este poema através de uma amiga da faculdade. Ela o interpretava com uma emoção muito forte:uma "tsunami." Era a nossa adolescência. Naquele tempo poucos tinham o privilégio de ter um lp de vinil e ouvir na voz de Betânia. Hoje, podemos ver e ouvir.

4 de abril de 2009

BUSQUE AMOR NOVAS ARTES, NOVO ENGENHO


Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
(Luís de Camões)

Este poema pode ser escutado na voz de Miguel Falabella num site dedicado à leitura de poemas.
http://www.miguelfalabella.com.br/poetas/poet.swf

NOTURNO DE UMA VILA QUALQUER

Nenhum ruído de cães nas latas de lixo.
(Aqui não há cães, nem latas de lixo.)
Como também não há os mendigos.
Em uma ou outra casa, se conversa,
E o pó do café, escorrendo pelas janelas,
Preteja as paredes dos fundos.
Olga, desfolhada, não me veio esta noite.
Ninguém mesmo tropeçou nas cadeiras da sala.
Mas deve haver algum defunto, alguma
Criança germinando dentro da noite.
E não é sem tempo que Maria Balduína,
A parteira, com uma luz acesa a desoras,
Domine as mulheres grávidas da vila.
Orozimbo pisa que nem distrito federal
A Ladeira do Meio, o Beco dos Andrades,
Enquanto Pedro Vieira ensaia uma modinha qualquer
(felizmente engasgada) à Anita Eleocádia.
O subdelegado de polícia e a cadeia pública
Dormem. Rápido, um vulto de preto, chicoteando
Morcegos, a Rua de Cima atravessa,
Como se fora a viúva do farmacêutico no cio,
Como se fora o padre conduzindo a âmbula.
Havia mesmo uma chusma de cavalos mancos
Pelas ruas. As almas, pela noite, andavam
Como símios. Nem todo o arraial dormia.
O próprio cemitério matutava.
(Dantas Mota)

A CASA DO SAQUINHO

(Décima com mote de domínio público)

Já não se ouvem mais as pisadas,
os risos, as brincadeiras
e o cheiro das trepadeiras
hoje são coisas passadas.
Tinha as paredes caiadas,
em volta um jardim florindo.
Pois tudo aquilo está findo,
que do ontem restou um nada,
casa velha abandonada
que o tempo vai demolindo.
(Virgílio Maia)

DICA DE MÚSICA

Hoje, nesta manhã ardente de sol e melancolia, acordei ouvindo esses versos de Herbert Viana. A ternura que senti foi tanta que decidi dividir com vocês um pouco do que este poema me transmitiu. Pra quem não conhece a melodia eu recomendo.

VAMOS VIVER

Vamos consertar o mundo
Vamos começar lavando os pratos
Nos ajudar uns aos outros
Me deixe amarrar os seus sapatos
Vamos acabar com a dor
E arrumar os discos numa prateleira
Vamos viver só de amor
Que o aluguel venceu na terça-feira
O sonho agora é real
E a chuva cai por uma fresta no telhado
Por onde passa o sol
Hoje é dia de supermercado
Vamos viver só de amor
E não ter que pensar, pensar
No que está faltando, no que sobra
Nunca mais ter lembrar, lembrar
De por travas e trancas nas portas.

(HERBERT VIANA)

3 de abril de 2009

POETA NUNCA MAIS

Não busco noites de autógrafos,
Cargos em gabinetes,
Nem intelectualismos robóticos.
A destruição é real, não é teórica.
A ilusão do dinheiro, do natal de luz,
Da gana pela luxúria, não é virtual.
Portanto, podem me chamar de radical,
Sectário, terrorista, pois sei muito bem
Que o terrorismo está no canguçu
Que em nome de um cargo,
De míseros trocados,
Torna-se turvo e tosco social...
Pior... Faz da vida a própria negação do viver.
O que eu sou é cúmplice do guerrilheiro,
Amigo do socialista,
Atento ao ato revolucionário sem rosas.
(mas com roseiras de espinhos épicos)
Não sou revoltado,
Pois amo a possibilidade
De acabar com o caos,
Com a barbárie que reina,
(não por acaso)
Em plena pós-modernidade.
Não quero praça de recreação
Quero ação,
Não sou um chip,
Sou reação.
Vamos. Digam que não faço poemas.
Não faço mesmo.
Como posso fazer poesias enquanto o holocausto
Da miséria castiga o Nordeste,
Seja na América ou na África?
A poesia dos indolentes pode esperar...
Os ossos dos inocentes não!
No mais, a poesia faz parte da vida, enquanto a luta
É o que nos mantém vivos.
Pode parecer plágio da sociedade dos poetas mortos,
Que seja!
Mas é um plágio urgente,
Lúcido de resistência,
De quem sabe de que lado está e o que combate.
Inventem, reinventem novos títulos:
Arte do beco,
Arte panfletária,
Poesia social.
Seus rótulos não mais me afetam,
Pois aprendi com os berros ensangüentados da ternura
Que o poder popular não passa pela caneta do poeta,
Mas, pelo calo quente dos que amam a humanidade,
Muitas vezes sem ter direito a ela.
Portanto, nego e renego:
Eu não sou Hilda Hilst,
Não quero ser Fernando Pessoa,
Nem tão pouco seus heterônimos,
Acabem com essa história de poetas...
Morte a Cecília, Bandeira, Thiago,
Basta! Não quero saber de Jorge Luis Borges,
De Victor Hugo ou do Poeta dos escravos,
Estou farto de Pablo Neruda, Araripe Coutinho e Brecht.
Eu quero a revolução libertária,
O sonho sem destinatário,
E a vida que se interessa pela luta,
Pelo canto cru do povo que mesmo sufocado não se sufoca.
Viva o tecer incólume dos que gritam.

(Razek Seravhat)

2 de abril de 2009

DESATANDO O NÓ

Nasceu com a mãe na zona
E o pai no xilindró
Aquele menino viveu desatando nó

Quando ele nasceu
Não disseram que era assim
A lei do mais esperto
Cada um pra si
E ter que dar seu voto
A quem não sabe dividir
Trabalhar feito doido
E o salário daqui
Não dá pra criar
Os cinco barrigudim
Vive dando murro em prego
Pra ser um homem de fato
Se emprestam não lhe pagam
Vive pagando o pato
Tá cheio de malandro
É um ninho de rato
Os mais bobo troca meia
Sem tirar o sapato
Cochilou cachimbo cai
Escorregou fica de quatro
É um cabaré de cego
Dentro de um balaio de gato


Tem que ter cara e coragem
Pra tentar ganhar no grito
Tem gente vendendo a mãe
Tem gente ficando rico
Será o Mercosul
Ou será o benedito?
Quanto mais a moda é feia
Mais o povo acha bonito
Escutador de novela
Promovido a pinico
Os desonesto dentro
E os honesto de fora
Quem trafica enrica
E o justo na tora
No capitalismo
Quem tem água nos olhos
Quando vai no enterro
Se não lhe pagar não chora
Chora se não tiver
Dinheiro vivo em dólar
Chora pra quem morreu
Se lhe pagarem na hora

Olha o cidadão no mundo
No mundo ninguém tá só
Vida de quem tá no mundo
É viver desatando nó
Olhe o nó na madeira
A mentira é um nó
Quem dá nó em goteira
Amarra a sombra com cipó

( Juraildes da Cruz - cantor e compositor - nascido no dia 23 de novembro de 1954 em Aurora do Norte, hoje estado do Tocantins. Seu estilo é extremamente influenciado pelas cantigas de roda, folias de reis e por Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.)

1 de abril de 2009

VIDA MARVADA

Corre um boato aqui donde eu moro
Que as mágoa que eu choro são mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi
A baba sempre foi santa e purificada
Diz que eu rumino desde menininho
Fraco e mirradinho a ração da estrada
Vou mastigando o mundo e ruminando
E assim vou tocando essa vida marvada

É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desenganos
É que a viola fala alto no meu peito, mano
E toda mágoa é um mistério fora desse plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pruma visitinha
Que no verso e no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me no cateretê

Tem um ditado dito como certo
Que cavalo esperto não espanta a boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando essa vida marvada
Cumpadi meu que inveieceu cantando
Diz que ruminando dá pra ser feliz
Por isso eu vagueio ponteando
E assim procurando minha flor-de-lis

(Rolando Boldrin)