30 de maio de 2009

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Martha Medeiros

Calendario de Manifestações contra o aumento de passagem


20 Centavos faz muita diferença sim!

A Frente de Luta Contra o Aumento da Passagem convida toda população de Fortaleza a demonstrar sua indignação contra a efetivação do aumento da passagem de Embora a diferença pareça pequena, os vinte centavos farão uma diferença de 1,60 para 1,80.4 reais por semana para um estudante somente para ir e voltar da escola de segunda a sexta, e de 8 reais por semana para o trabalhador/desempregado, isso só para ir e voltar do trabalho de segunda a sexta. No fim do ano a diferença será de 48 reais para estudante e 75 reais para o trabalhador, isso só para ir e voltar de segunda a sexta. O/A fortalezense que já gastava 25% do orçamento familiar com transporte, com o aumento esse percentual aumentou ja que sobe a passagem e não sobe o salario. Ainda que a passagem tenha ficado congelada por 4 anos, os empresarios que tem o oligopolio das empresas de ônibus não deixaram de lucrar ja que desde 2006 a prefeitura isentou as empresas de uma serie de impostos e vem injetando dinheiro publico nas mesmas através da Câmara de Compensação.

1,80 é muito caro para o serviço prestado com:

Poucos ônibus. Ônibus que demoram muito. Ônibus lotado. Buracos nas ruas. Trabalharores rodoviarios mal remunerados. Entre outros...

Vamos barrar o aumento da Tarifa!!! Que os Empresarios paguem pela crise no transporte!!!


Compareça nas manifestações atos Contra o Aumento da Passagem:

28/05 (Quinta Feira) As 9h na Secretaria Municipal de Educação, num ato dos professores da rede municipal e servidores do municipio(Av. Pontes Vieira, proximo a Assembleia Legislativa), a Frente estará presente demonstrando solidariedade a luta.

29/05 (Sexta Feira) as 17h no Terminal da Parangaba. (Concentração as 16h nos portões do Campus do Itaperi).

01/06 (Segunda Feira) as 16h no Cruzamento das Av. 13 de Maio com Av. da Universidade.


Blog: www.frentecontraoaumentoelimitacao.blogspot.com Comunidade no orkut: Contra o Aumento da Passagem CE LISTA DE E-MAIL: fcaplm@googlegroups.com Contato: flcaplm@gmail.com

26 de maio de 2009

TROQUE UM PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES

Prezado amigo!

Sou professor de Física, de ensino médio de uma escola pública em uma cidade do interior da Bahia e gostaria de expor a você o meu salário bruto mensal: R$650,00 Eu fico com vergonha até de dizer, mas meu salário é R$650,00. Isso mesmo! E olha que eu ganho mais que outros colegas de profissão que não possuem um curso superior como eu e recebem minguados R$440,00. Será que alguém acha que, com um salário assim, a rede de ensino poderá contar com professores competentes e dispostos a ensinar? Não querendo generalizar, pois ainda existem bons professores lecionando, atualmente a regra é essa: O professor faz de conta que dá aula, o aluno faz de conta que aprende, o Governo faz de conta que paga e a escola aprova o aluno mal preparado. Incrível, mas é a pura verdade! Sinceramente, eu leciono porque sou um idealista e atualmente vejo a profissão como um trabalho social. Mas nessa semana, o soco que tomei na boca do estomago do meu idealismo foi duro! Descobri que um parlamentar brasileiro custa para o país R$10,2 milhões por ano. São os parlamentares mais caros do mundo. O minuto trabalhado aqui custa ao contribuinte R$11.545. Na Itália, são gastos com parlamentares R$3,9 milhões, na França, pouco mais de R$2,8 milhões, na Espanha, cada parlamentar custa por ano R$850 mil e na vizinha, Argentina, R$1,3 milhões. Trocando em miúdos, um parlamentar custa ao país, por baixo, 688 professores com curso superior !Diante dos fatos, gostaria muito, amigo, que você divulgasse minha campanha, na qual o lema será: "TROQUE UM PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES". COMO VOCE VAI VOTAR DEPOIS DE LER ESTA MATÉRIA?? REPASSEM, EU JÁ ADERI À CAMPANHA! Obrigado !!

23 de maio de 2009

A VIDA...

A melhor definição que encontrei pra vida foi ouvindo uma canção de Taiguara, um cantor comunista que morreu com 51 anos, não recordo em qual ano. Hoje, relendo Francisco Carvalho, descobri uma interessante definição para a vida. No livro, O tecedor e sua trama. Nesta manhã chuvosa...deste inverno tristonho... Vivendo uma vida que parece não ter fim... Reparto com vocês este minuto de sofreguidão, ausência de tudo, até de solidão:

A VIDA É VADIA SE ENTREGA PRA TODOS
E ACABA DEPRESSA.

TAIGUARA

A VIDA É UM PACTO DE SANGUE
QUE O HOMEM CELEBRA COM A PRÓPRIA SOMBRA.

FRANCISCO CARVALHO

20 de maio de 2009

MÁRIO BENEDETTI

Porque cantamos

Se cada hora vem com sua morte
se o tempo é um covil de ladrões
os ares já não são tão bons ares
e a vida é nada mais que um alvo móvel

você perguntará por que cantamos

se nossos bravos ficam sem abraço
a pátria está morrendo de tristeza
e o coração do homem se fez cacos
antes mesmo de explodir a vergonha

você perguntará por que cantamos

se estamos longe como um horizonte
se lá ficaram as árvores e céu
se cada noite é sempre alguma ausência
e cada despertar um desencontro

você perguntará por que cantamos

cantamos porque o rio esta soando
e quando soa o rio / soa o rio
cantamos porque o cruel não tem nome
embora tenha nome seu destino

cantamos pela infância e porque tudo
e porque algum futuro e porque o povo
cantamos porque os sobreviventes
e nossos mortos querem que cantemos

cantamos porque o grito só não basta
e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota

cantamos porque o sol nos reconhece
e porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta

cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas.



Mario Benedetti

Um dos mais importantes escritores uruguaios da atualidade, Mario Benedetti nasceu em 14 de setembro de 1920, em Paso de los Toros, Uruguai. Trabalhou como vendedor, taquígrafo, contador, funcionário público e jornalista. Entre 1938 e 1945, morou em Buenos Aires. Ao retornar a Montevidéu, passou a trabalhar no semanário Marcha.
Nesse mesmo ano, publicou o primeiro livro de poesias, La víspera indeleble. Nos anos seguintes, Benedetti lançaria a primeira coletânea de ensaios, Peripecia y novela (1948), a primeira de contos, Esta mañana (1949), e o primeiro romance, Quién de nosotros (1953). Em 1959, com a publicação do livro de contos Montevideanos, consagrou-se como escritor. E, no ano seguinte, o lançamento de A Trégua lhe rendeu fama internacional.
Por questões políticas, abandonou o Uruguai em 1973. Nos 12 anos de exílio morou na Argentina, Peru, Cuba e Espanha. Traduzido em todo o mundo e autor de uma vasta obra, Benedetti é considerado um dos mais importantes escritores uruguaios da atualidade.

19 de maio de 2009

SAMARICA PARTEIRA

SAMARICA PARTEIRA
- Oi sertão!
- Ooi!
- Sertão d' Capitão Barbino! Sertão dos caba valente...
- (Tá falando com ele!...)
- ...e dos caba frouxo também.
- (...já num tô dento.)
- Há, há, há... [risos]
- sertão das mulhé bonita...
– ôoopa
- ...e dos caba fei' também ha, ha
- ...há, há, há... [risos]

- Lula!
- Pronto patrão.
- Monte na bestinha melada e risque. Vá ligeiro buscar Samarica parteira que Juvita já tá com dô de menino.

Ah, menino! Quando eu já ia riscando, Capitão Barbino ainda deu a última instrução:
- Olha, Lula, vou cuspi no chão, hein?! Tu tem que vortá antes do cuspe secá!
Foi a maior carreira que eu dei na minha vida. A eguinha tava miada.

Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
uma cancela: nheeeiim ... pá...
Piriri piriri piriri piriri piriri piriri
outra cancela: nheeeiim... pá!
Piriri piriri piriri pir... êpa !
Cancela como o diabo nesse sertão: nheeeiim... pá!
Piriri piriri piriri piriri
Um lajedo: patatac patatac patatac patatac patatac . Saí por fora !
Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
Uma lagoa, lagoão: bluu bluu, oi oi, kik' k' - a saparia tava cantando.

Aha! Ah menino! Na velocidade que eu vinha essa égua deu uma freada tão danada na beirada dessa lagoa, minha cabeça foi junto com a dela!... e o sapo gritou lá de dentro d'água:
- ói, ói, ói ele agora quaje cai!

... Sapequei a espora pro suvaco no vazi' dessa égua, ela se jogou n'água parecia uma jangada cearense: [bluu bluu, oi oi, kik' k'] Tchi, tchi, tchi.
Saí por fora.

Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
Outra cancela: nheeeiim... pá!
piriri piriri piriri piriri piriri piriri

Um rancho, rancho de pobe...
- Au au!
Cachorro de pobe, cachorro de pobe late fino...
- Tá me estranhan'o cruvina?
Era cruvina mermo. Balançô o rabo. Não sei porque cachorro de pobe tem sempre nome de peixe: é cruvina, traíra, piaba, matrinxã, baleia, piranha.
Há! Maguinho mas caçadozinh' como o diabo!
Cachorro de rico é gooordo, num caça nada, rabo grosso, só vive dormindo. Há há ... num presta prá nada, só presta prá bufar, agora o nome é bonito: é white, flike, rex, whiski, jumm.
Há! Cachorro de pobe é ximbica!

- Samarica, ooooh, Samarica parteeeeira!

Qual o quê, aquelas hora no sertão, meu fi', só responde s'a gente dê o prefixo:
- Louvado seja nosso senhor J'us Cristo!
- Para sempre seja Deus louvado.

- Samarica, é Lula... Capitão Barbino mandou vê a senhora que Dona Juvita já tá com dô de menino.
- Essas hora, Lula?
- Nesse instante, Capitão Barbino cuspiu no chão, eu tem que vortá antes do cuspe secá.

Peguei o cavalo véi de Samarica que comia no murturo ? Todo cavalo de parteira é danado prá comer no murturo, não sei porque. Botei a cela no lombo desse cavalo e acochei a cia peguei a véia joguei emriba, quase que ela imbica p'outa banda.

- Vamos s'imbora Samarica que eu tô avexado!
- Vamo fazê um negócio Lula? Meu cavalin' é mago, sua eguinha é gorda, eu vou na frente.
- Que é que há Samarica, prá gente num chegá hoje? Já viu cavalo andar na frente de égua, Samarica? Vamo s'imbora que eu tô avexado!!

Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá!
Piriri tic tic piriri tic tic
bluu oi oi bluu oi, uu, uu

- ói, ói, ói ele já voltoooou!

Saí por fora.

Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
Patateco teco teco, patateco teco teco, patateco teco teco

Saí por fora da pedreira

Piriri piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá !
Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá !
Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá!
Piriri piriri tic tic piriri tic tic

- Uu uu.

- Tá me estranhando, Nero? Capitão Barbino, Samarica chegou.

- Samarica chegou!!

Samarica sartou do cavalo véi embaixo, cumprimentou o Capitão, entrou prá camarinha, vestiu o vestido verde e amerelo, padrão nacioná, amarrou a cabeça c'um pano e foi dando as instrução:

- Acende um incenso. Boa noite, D. Juvita.
- Ai, Samarica, que dô !
- É assim mermo, minha fi'a, aproveite a dô. Chama as muié dessa casa, p'a rezá a oração de São Reimundo, que esse cristão vem ao mundo nesse instante. B'a noite, cumade Tota.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Gerolina.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Toinha.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Zefa.
- B'a noite, Samarica.
- Vosmecês sabe a oração de São Reimundo?
- Nós sabe.
- Ah Sabe, né? Pois vão rezando aí, já viu??

[vozes rezando]

- Capitão Barbiiino! Capitão Barbino tem fumo de Arapiraca? Me dê uma capinha pr' ela mastigar. Pegue D. Juvita, mastigue essa capinha de fumo e não se incomode. É do bom! Aguenta nas oração, muié! [vozes rezando] Mastiga o fumo, D. Juvita... Capitão Barbino, tem cibola do Cabrobró?
- Ai Samarica! Cebola não, que eu espirro.
- Pois é prá espirrar mesmo minha fi'a, ajuda.
- Ui.
- Aproveite a dor, minha fi'a. Aguenta nas oração, muié. [vozes rezando] Mastigue o fumo D. Juvita.
- Capitão Barbiiino, bote uma faca fria na ponta do dedão do pé dela, bote. Mastigue o fumo, D. Juvita. Aguenta nas oração, muié. [vozes rezando alto].
- Ai Samarica, se eu soubesse que era assim, eu num tinha casado com o diabo desse véi macho.
- Pois é assim merm' minha fi'a, vosmecê casou com o vein' pensando que ele num era de nada? Agora cumpra seu dever, minha fi'a. Desde que o mundo é muundo, que a muié tem que passar por esse pedacinh'. Ai, que saudade! Aguenta nas oração, muié! [vozes rezando alto]. Mastigue o fumo, D. Juvita.
- Ai, que dô!
- Aproveite a dô, minha fi'a. Dê uma garrafa pr' ela soprá, dê. Ô, muié, hein? Essa é a oração de S. Reimundo, mermo?
- É..é [muitas vozes].
- Vosmecês num sabe outra oração?
- Nós num sabe... [muitas vozes].
- Uma oração mais forte que essa, vocês num têm?
- Tem não, tem não, essa é boa [muitas vozes]
- Pois deixe comigo, deixe comigo, eu vou rezar uma oração aqui, que se ele num nascer, ele num tá nem cum diabo de num nascer: "Sant' Antoin pequenino, mansadô de burro brabo, fazei nascer esse menino, com mil e seiscentos diabo!"
[choro de criança]

- Nasceu e é menino homem!
- E é macho!
- Ah, se é menino homem, olha se é? Venha vê os documento dele! E essa voz!

Capitão Barbino foi lá detrás da porta, pegou o bacamarte que tava guardado há mais de 8 dia, chegou no terreiro, destambocou no oco do mundo, deu um tiro tão danado, que lascou o cano. Samarica dixe:

- Lascou, Capitão?
- Lascou, Samarica. É, mas em redor de 7 légua, não tem fi' duma égua que num tenha escutado. Prepare aí a meladinha, ah, prepare a meladinha, que o nome do menino... é Bastião.

Luiz Gonzaga

RONDÓ DA PRISÃO DE CAMÕES NO PÁTIO DO TRONCO

Pelas bandas do Róssio
numa taberna de vinhos
guitarras e violões
levaram um dia preso
um Luís Vaz de Camões

foi preso por umas rixas
na Porta de Santo Antão
entre alguazis taberneiros
e fêmeas de ocasião.

Luís de Camões, Luís
fora à taberna da praça
tomar uns vinhos do Douro
dar ares de sua graça

...e quem sabe mais o quê...

Foi contar suas histórias,
seus trabalhos nunca usados
Aljubarrotas e rotas
sonhadas, depois vividas
a Calicutes e Goas
Por Chinas Áfricas Índias
de mares e terras boas

...e quem sabe mais o quê...
...beber seus vinhos do Douro
e quem sabe mais o quê...

Entre dois soldados d'armas
levado ao Pátio do Tronco
recebeu voz de prisão
do meirinho Sancho Bronco.

Quiseram tirar-lhes as armas
para deitá-lo no chão:
saltou à frente dos biltres
com sua espada na mão.

Passaram a pôr em termos
o processo da prisão,
à luz de fachos acesos
perguntou-lhe um escrivão
as perguntas de costumes
que fazem na ocasião:

Qual seu nome seu estado
sua idade e profissão
onde morou onde mora
se tem pai se tem irmão
se é solteiro se é casado
ou se vive amancebado
com alguma barregã,
onde perdeu um de seus olhos,
que coisa veio fazer
na Porta de Santo Antão.

"O que outros não navegaram
por terra e mar naveguei
e num mar de sangue em Ceuta
cinquenta mouros matei
na ponta de alfanje mouro
um de meus olhos deixei.

Perguntem meu nome ao Tejo
e às águas que vou cruzar
português de Portugal
morei nas léguas do mar
eles conhecem o meu nome
elas o sabem cantar.

Idade tenho a que tenho
mais a idade que terá
o reino de Portugal:
enquanto eu mesmo existir
este reino existirá
se morrer um de nós dois
o outro também morrerá.

Escrivão de suas lendas
curador de seus defuntos
destino meu e do reino
é viver e morrer juntos.
moro no mar e na terra
nem casado nem solteiro
sou servido em meus serviços
pelas sereias do mar.

De profissão fui soldado
e marinheiro do rei
e o reino sempre chegou
onde eu primeiro cheguei.
Hoje sou cantor das ondas
das velas em seus veleiros
das armas de Portugal
e seus barões cavaleiros".

Perguntado por seus bens
disse que tinha uma espada
uma lira uma guitarra
e um copo para beber
e que estes bens - sua espada,
o copo e a lira - sabia
manejar como ninguém,
nas Índias na Costa d'África
ou nas tascas de gaudérios
entre o Restelo e Belém.

De tudo isso vão dar conta
umas rumas de papel
que irá trazer de Macau
molhadas no sal das águas
em naufrágio no Mecongo;
com seus versos de dez sílabas
limados em boa lima
na língua melhor da terra
de estrofes de oitava rima.

tinha também umas glosas
em sonetos escandidos
sôbolos rios e mares
na língua de Portugal
e nesses versos guardava
o seu melhor cabedal
e o nome de uma senhora
dona de seu coração
mas não diria este nome
diante duma ralé
no pátio de uma prisão.

"Agora saiam da frente
que a espada que matou mouros
mata qualquer alguazil".
E pela porta de Pedra
abriu caminho entre os biltres,
o ferro fero na mão;
saiu cantando, de volta
à Porta de Santo Antão,
onde esperavam jograis
e vinhos verdes do Dão
os marinheiros da Índias
e as fêmeas de ocasião.

Fortaleza, 10/12/1998
Gerardo Mello Mourão (Algumas Partituras)

17 de maio de 2009

Cálice

Pai!
Afasta de mim esse cálicePai!
Afasta de mim esse cálicePai!
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...(2x)
Como beberDessa bebida amarga
Tragar a dorEngolir a labuta
Mesmo calada a boca
Resta o peito
Silêncio na cidade
Não se escuta
De que me vale
Ser filho da santa
Melhor seria
Ser filho da outra
Outra realidade
Menos morta
Tanta mentira
Tanta força bruta...
Como é difícilAcordar calado
Se na calada da noite
Eu me dano
Quero lançar
Um grito desumano
Que é uma maneira
De ser escutado
Esse silêncio todo
Me atordoa
Atordoado
Eu permaneço atento
Na arquibancada
Prá a qualquer momento
Ver emergir
O monstro da lagoa...
De muito gorda
A porca já não anda(Cálice!)
De muito usada
A faca já não corta
Como é difícil
Pai, abrir a porta(Cálice!)
Essa palavra
Presa na garganta
Esse pilequeHomérico no mundo
De que adiantaTer boa vontade
Mesmo calado o peito
Resta a cuca
Dos bêbados
Do centro da cidade...
Talvez o mundo
Não seja pequeno(Cálice!)
Nem seja a vida
Um fato consumado(Cálice!)
Quero inventar
O meu próprio pecado(Cálice!)
Quero morrer
Do meu próprio veneno(Pai! Cálice!)
Quero perder de vez
Tua cabeça(Cálice!)
Minha cabeça
Perder teu juízo(Cálice!)
Quero cheirar fumaça
De óleo diesel(Cálice!)
Me embriagar
Até que alguém me esqueça(Cálice!)
(Chico Buarque e Gilberto Gil)

16 de maio de 2009

De Graça (Juan Di Brechó)

Lírico, lépido e lúcido

Da cor da púrpura ardente

Poeta de coração leve

Tens a alma decente


Como um rio que corre

Em sentido contrário ao afluente

Desencrespando a margem

Sempre rio, infinitamente diferente


Na tua essência, uma fortaleza

Que vislumbra o aljôfar

Transformando a pérola miúda do ser

Em gotas D’água do rio ao mar


És sublime por ser Augusto

E como poucos, virtuoso

Que por generosidade és amigo

E no próprio nome majestoso

Poesia "Boneca Francesa" - Juan Di Brechó

Boneca Francesa Juan Di Brechó

Pequeno botão em forma de mulher

Que encanta meus olhos

Com seu corpo delirante

E afoga-me em desejos múltiplos

Dentre pernas de pétalas

E perfume suave.

Assim vejo você...

Liberta-me do teu feitiço

Boneca francesa,

Deixa meu corpo respirar,

Censura tuas carícias

Senão enlouquecerei de prazer.

Assim é você...

Jovem fonte que desce a montanha

Trazendo consigo a força da natureza

E o perfume da mata virgem,

Perdoa-me por invadir

Teus encantos mais secretos,

Tua sensibilidade e teu coração.

Assim eu peço...

15 de maio de 2009

DIA NACIONAL DA MATEMÁTICA

A Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM) elegeu o dia 6 de maio “DIA NACIONAL DA MATEMÁTICA”, em memória da data de nascimento de Júlio César de Mello e Souza, o MALBA TAHAN. Apesar dos noves dias que já se passaram vai aqui a minha homenagem e o meu respeito para todos aqueles que amam a matemática. Deixo também o meu abraço para quem não gosta da Ciência de Pitágoras, com a ressalva de que, como sugere o poema abaixo: “as pessoas inteligentes nunca desistem de um grande amor, ainda que esse não seja verdadeiro,” Porque desistir de matemática?.


Metáfora Matemática


A matemática é como uma pessoa inteligente,
Quando pensamos que estamos certos,
Ela nos surpreende com sua infinitude,


Mesmo que estejamos realmente corretos...

Ainda assim, não nos sentiremos tão seguros,
Dado a sua imensa complexidade.

Você, decerto já passou por isso,
Sentindo aquela sensação de vitória,
Aquela mesma que nos invade quando,
Acertamos uma questão que julgávamos
Incapazes de solucioná-la.

É a realização do sonho sorrindo...

E quando brigamos com a pessoa amada,
Sentimos um intenso vazio que só se compara
Àquela terrível impressão de impotência,
Por não termos resolvido tão instigante desafio.

Mesmo exaustos, não desistimos,
Pois acreditamos no infalível poder de que pensar
É mais forte do que qualquer problema.

O verdadeiro matemático é tão sensível quanto
Um sentimento que se complica.

Assim é a matemática, é mais fácil explicá-la,
Do que amá-la, mas uma vez amando-a,
Tudo tornar-se compreensão, como se fosse uma
Inesperada história de amor, ternura e superação.

Razek Seravhat

14 de maio de 2009

POEMA DO VOO LIVRE

Mil âncoras
Soltam meus pés do chão,
Mil voos abraçam
Minhas mil xícaras de café
E chás com outros tons...

Ao longe, modela-se
Outra estação,
Numa outra estrada muda
De amores desfeitos...
Dissabores e falhos comprimidos...
No entanto,
Mil âncoras
Soltam meus pés do chão...

Ei, você aí, desconfia do quê?
Do patrão que explora,
e ao fim do mês oferece-lhe uma migalha?
Não desconfie, não desconfie...
Ele realmente faz isto!

O jornal do Partido envelheceu.
Não serve nem para forrar o chão
Quando pintam-se as paredes...

Calma, não desespere-se.
Canalize todo o teu sentir
Em uma outra coisa,
-coisa esta que eu também desconheço...
Ainda há céu,
Pôr-do-sol e pássaros!
...Por enquanto,
Portanto, aproveite!

E um lembrete;
Destrua os déspotas
Que tiranizam o viver!
Declare guerra a quem
Vier falar em nome do Povo!
E arranque do fundo do coração selvagem
Um punhado de Revolta,
E só depois vire Revolução!
E depois,
Semearemos e Colheremos coisas
Que a humanidade nunca provou realmente,
Coisas como
Amizade
Amor e
Liberdade.

RAFAEL CARVALHO

10 de maio de 2009

CARLOS LYRA

Carlos Lyra, carioca de Botafogo. Ronaldo Bôscoli e Paulo Cesar Pinheiro foram seus primeiros parceiros musicais. Quando se auto-exilou em 1964, no México, conheceu o poeta Otávio Paz, Gabriel Garcia Marquez e sua esposa Katherine Lee Riedel. Lyra, destoou da bossa sorriso e amor e reinventou uma bossa voltada para a resistência. Em 1958 compõem Aruanda, em parceria com Geraldo Vandré. Suas composições foram gravadas pelas duas vozes femininas mais afinadas do cancioneiro nacional: Nara Leão e Dolores Duran. Abaixo você confere a fraca interpretação de Ary Toledo para uma das melhores composições do ator, cantor, compositor e dramaturgo Carlos Eduardo Lyra Barbosa.



Comedor de Gilete (pau-de-arara)

(Cantado) Eu um dia cansado que tava da fome que eu tinha
Eu não tinha nada que fome que eu tinha
Que seca danada no meu Ceará
Eu peguei e juntei um restinho
De coisas que eu tinha
Duas calça velha e uma violinha
E num pau-de-arara toquei para cá
E de noite eu ficava na praia de Copacabana
Zanzando na praia de Copacabana
Cantando o xaxado pras moças olhar
Virgem Santa! Que a fome era tanta
Que nem voz eu tinha
Meu Deus quanta moça, que fome que eu tinha...
Zanzando na praia pra lá e pra cá


(Recitado) Foi aí então que eu arresolvi a comer gilete...Tinha um cumpadre meu lá de Quixeramubim que ganhou um dinheirão comendo gilete na praia de Copacabana. Eu não sei não, mas eu acho que ele comeu tanta, mas tanta, que quando eu cheguei lá aquela gente toda já estava até com indigestão de tanto ver o cabra comer gilete. Uma vez eu disse assim prum moço que vinha passando: Ô decente, vosmecê não deixa eu comer uma giletezinha pra vosmecê ver?
"Tu não te manca não, ô Pau-de-Arara?"
"Só uma, que eu ainda não comi nadinha hoje."
"Você enche, ein?"
Aquilo me deixou tão aperreado que se não fosse o amor que eu tinha na minha violinha, eu tinha rebentado ela na cabeça daquele...filho de uma égua!


(Cantado) Puxa vida, não tinha uma vida pior do que a minha
Que vida danada que fome que eu tinha
Mais fome que eu tinha no meu Ceará
Quando eu via toda aquela gente num come-que-come
Eu juro que tinha saudade da fome
Da fome que eu tinha no meu Ceará
E aí eu pegava e cantava e dançava o xaxado
E só conseguia porque no xaxado
A gente só pode mesmo se arrastar
Virgem Santa! A fome era tanta que mais parecia
Que mesmo xaxando meu corpo subia
Igual se tivesse querendo voar


(Recitado) Às vezes a fome era tanta que volta e meia a gente arrumava uma briguinha pra ver se pegava a bóia lá do xadrez. Êta quentinho bom no estômago! Com perdão da palavra, a gente devolvia tudo depois, que a bóia já vinha estragada. Mas enquanto ela ficava quietinha lá dentro, que felicidade! Não, mas agora as coisas tão melhorando. Tem uma dona lá no Lebron que gosta muito de ver é eu comer caco de “vrídrio”. Com isso eu já juntei uns quinhentos merréis. Quando juntar um pouco mais, vou-me embora, volto pro meu Ceará!


(Cantando) Vou voltar para o meu Ceará
Porque lá tenho nome
Aqui não sou nada, sou só Zé-com-fome
Sou só Pau-de-Arara, nem sei mais cantar
Vou picar minha mula
Vou antes que tudo rebente
Porque tô achando que o tempo tá quente
Pior do que anda não pode ficar!

9 de maio de 2009

SONHOS DE UM “POETAÇO”

Nos versos pés quebrados que eu faço,
Sem rimas e sem métrica,
Revelo minha má veia poética,
..........Que embaraço!

Aos versos os regurgito, sem estética
“Sem regra e sem compasso”,
E a mim servem de laço,
Os meandros da fonética.

Como posso rimar ética com métrica?
.............Ou compasso com laço?
Daí meu embaraço....... que faço?
....Que condição mais tétrica!!!

Quem me dera tivesse Dons poéticos,
De onde pérolas de versos aflorassem
De forma forte e fina, que ficassem
Perfeitamente estruturados e estéticos.

Seria então como se germinassem
Vergéis floridos em meus jardins herméticos,
Poetar versos bons........ não os patéticos
Versos que faço; ....e que predominassem.

E que aos lindos versos que fizesse
Toda a posteridade que os herdassem
Os lesse,... os recitassem e os amassem,
Do modo que gostassem e que quisessem

Que quais dos grandes vates, quem os lessem,
... De pronto os decorassem,
sem importar o tempo que levassem,
... Jamais os esquecessem.

Que em todas as línguas os traduzissem,
Mortas ou vivas,.... e em seus dialetos,
E figurassem seus nomes entre os seletos,
Dos principais poemas que existissem.

E que mesmo outros poetas que os vissem,
Ao declamarem-nos se emocionassem
E assim catalíticos eles ficassem
Contaminando a todos que os ouvissem

E num longínquo futuro onde chegassem,
A milhares de séculos ainda distantes,
Quais de Homero, Virgílio e Cervantes,
Dos catalectos vigentes eles constassem.

Não que aos deles, humildes, se igualassem,
Ou calassem o que antigas musas cantaram
Mas como últimos seguissem aos que ficaram,
E em citações poetas os decantassem.

Que os poemas de amor, eu os fizesse
Transmitindo as emoções que então sentisse
De modos que quem os lesse ou os ouvisse
As emoções que tive,...... ali tivesse

Que minha alma por mais que não partisse,
Desta terra, e por toda ela vagasse
E até o fim dos tempos aqui penasse
A recitá-los em coda canto os ouvisse.

E se entre outras almas que encontrasse,
Quais futuros tirésias, ali estivessem
Todos vates antigos que houvessem
Feito versos quais eu...... e os amasse.

Talvez os seus saberes me ensinassem
Os que de crúzios padres os receberam,
Ou mostrando-me as fontes onde beberam,
Os antigos também me estimulassem.

E que se em outra vida aqui voltasse,
O destino ao trazer-me me trouxesse,
Condições propícias, e eu não tivesse
Que tão cedo trabalhar, mas estudasse.

Que todos os demais erros eu cometesse,
Qual nesta vida os tenho cometido,
E qual reincidente empedernido,
Os castigos novamente eu recebesse.

Mas um único talvez eu não quisesse
Nunca mais cometê-lo novamente,
Parar de estudar.......é indecente,
Este eu consertaria se pudesse.

Poeta: Francisco Egídio Aires Campos

Filiação: Francisco Aires Lobo e Maria Aires Campos, Juazeiro do Norte, CE,
03/03/1944, pseudônimo Chico Arigó.
Escolaridade: curso primário incompleto.

Mais sobre o autor: no Site de Poesias (para quem quiser conferir mais poemas e informações)


ATÉ...




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(Razek Seravhat)

Este poema é dedicado ao poeta Eder joul e para todos e todas que acreditam e defendem a luta por um mundo sem classes.


8 de maio de 2009

GEIR, O ARTESÃO DO VERSO: UMA DÉCADA DEPOIS...

Tarefa

Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.

Geir Campos*

*o poeta esteve sempre engajado nas lutas de seu tempo.Quase foi eleito vereador em Niterói, pela legenda do Partido Socialista Brasileiro em 1962.Traduziu textos de Rilke, Brechet e Kafka.Faleceu aos 75 anos, em Niterói,no dia 08 de maio de 1999.

6 de maio de 2009

UMA CANÇÃO E MAIAKOVSKI...



"AS AMEAÇAS
E AS GUERRAS
HAVEMOS DE ATRAVESSÁ-LAS,
ROMPÊ-LAS AO MEIO,
CORTANDO-AS
COMO UMA QUILHA CORTA
AS ONDAS"

MAIAKOVSKI

5 de maio de 2009

ANJOS DA GUARDA

Professores
Protetores
das crianças do meu país
Eu queria, gostaria
De um discurso bem mais feliz
Porque tudo é educação
É matéria de todo o tempo
Ensinem a quem sabe tudo
A entregar o conhecimento
Na sala de aula
É que se forma um cidadão
Na sala de aula
Que se muda uma nação
Na sala de aula
Não idade, nem cor
Por isso aceite e respeite
O meu professor
Batam palmas pra ele
Batam palmas pra ele
Batam palmas pra ele
Porque ele merece.


LECI BRANDÃO

Metal contra as nuvens

Não sou escravo de ninguém
Ninguém, senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E, por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz.
Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais.
Eu sou metal, raio,
relâmpago e trovão
Eu sou metal,
eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal,
me sabe o sopro do dragão.
Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição,
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos.
Minha terra é a terra que é minha
E sempre será
Minha terra tem a lua,
tem estrelas
E sempre terá.
Quase acreditei na sua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela
e a minha espada
Perdi o meu castelo
e minha princesa.
Quase acreditei,
E, por honra,
se existir verdade
Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo
Mas vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo.
Olha o sopro do dragão...
É a verdade o que assombra
O descaso que condena,
A estupidez, o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes,
O corpo quer, a alma entende.
Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos.
Não me entrego sem lutar
Tenho, ainda, coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então.
Tudo passa, tudo passará...
E nossa história não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar.
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos.

(Legião Urbana)

4 de maio de 2009

O Primeiro de Maio: memória, símbolo e rito da vida operária.


As manifestações do Primeiro de Maio, com seus cortejos, estandartes das associações dos trabalhadores, hinos e alegorias remetem a valores constitutivos do movimento operário, tais como o internacionalismo e a solidariedade, plenos do intuito educativo e dos ideais de comunidade, união e luta. O esforço para consolidar este momento de expressão pública e coletiva de anseios por parte dos trabalhadores se completa na luta pela preservação do sentido de protesto dos oprimidos e explorados que a data encerra, furtando-se da intenção dos que a querem como "festa do trabalho", lugar da conciliação de classes. A memória operária é também objeto de lutas, o sangue derramado pelas "Oito horas de trabalho; oito horas de repouso; oito horas de educação" não pode ser esquecido.

No Ceará, como em todo o Brasil, os ecos das manifestações operárias em torno do Primeiro de Maio são ouvidos desde o final do século XIX. Os primeiros militantes socialistas cearenses expressam em seus jornais, discursos e partidos as idéias da redenção operária, fortalecendo uma tradição e formando e moldando a sua identidade. O Centro Artístico Cearense batiza seu jornal com o nome de Primeiro de Maio, já em 1905. A memória dos mártires é reverenciada em praça pública, em comício e demonstrações. Nas primeiras décadas do século XX, nas páginas do Voz do Graphico, Pedro Augusto Mota, trabalhador gráfico e militante libertário exalta a "data bendita", sintoma da luta pela construção da memória operária.



SALVE! SALVE! A CULTURA REVOLUCIONÁRIA NORDESTINA

3 de maio de 2009

SANGUE NO OLHO

Vejo meu povo de mãos estendidas
Nordeste mendigo, esmola o futuro
Que dor!

Vejo crianças famintas
Pedindo, gemendo
Gritando por pão
Que ânsia!

Que país! De escravos e mortos
De flores sem vida
De luxo e esqueletos
Disputas sem fim!

Até quando
Morremos, clamamos, perdemos, gritamos
Ao léu, ao céu...
Que falta de ar!

Vem, vem !
Ó liberdade sonhada
Ó igualdade revolucionária!
Reacende a chama da luta
Que ainda fumega na gente
Devolve-nos o perfume da vida que nos foge
Dá-nos a sensação saborosa da vitória
Que nos arrancam da boca!

Vem, vem!
Ó Deus dos profetas, fiel no combate
a toda maldade dos ricos tiranos!...

Coragem nós temos
Se abrirmos o olho
Um pingo de sangue se vê, certamente.

É tempo de luta, de sonhos, de paz
De história forjada, nas mãos deste povo
Que empunha, seguro, a bandeira da VIDA!

Agora depressa
Palavra clara, luz sobre a mesa
Mãos unidas, erguidas, treinadas!
Peito aberto, muito AMOR!

Vivam aqueles que têm sangue no olho!
Vivam os que vêem o amanhã!

Poema de Zé Vicente - Ce

DESPERTAR É PRECISO!

Na primeira noite
eles aproximam-se
colhem uma Flor do nosso jardim
e não dizemos nada.
Na segunda noite,
Já não se escondem;
pisam as flores,
matam o nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua e,
conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.
Vladimir Maiakovski

COMO TEM QUE SER



Desprezo seu ato formal
Morno
Seco
Insosso
Amargo (em mim)
Odeio cumprir esse ritual

Não me deseje sorte
Não me deseje a morte (eu mesmo não me desejo!)
Ignore
Não se importe.

Não me mande um abraço (a não ser que eu possa tê-la em meus braços)
Basta de meios-afagos
Basta de sorrisos-opacos
Fardos!

Sinto-me todo (estou inteiro)
Corpo e alma
Como aço
À prova de bala
À prova de falso

É meu (o que é meu)
Sentimento claro
Sofrimento lúcido
Sonho ensolarado (todo eu).

Não pense que é busca (busca não há)
É encontro (isso já)
Eu não te amo mais do que antes
Eu te amo como sempre
Amo, somente (como ignorar?).

(MACCOLLE,Valência, 22 de maio).

É CERTO QUE O POEMA POR SI SÓ SE BASTA. ENTRETANTO, O POEMA ACIMA TOCOU EM MIM TÃO "FUNDAMENTE" QUE ARRISCO DIZER _ O AMOR NÃO É ROSEIRA, NEM FOTOGRAFIA DE ROSA VERMELHA NO CANTO DE UM MURO.AMOR É COMO PÓLVORA, POVO, NÃO É POLVO,NEM PORTO.

2 de maio de 2009

QUEM SÃO ELES ?

Cuspiram na gente
Pisaram a semente
Desligaram a luz
Abriram a ferida
Bateram na vida
Nos deram mais cruz.

Cortaram o barato
Soltaram o boato
Mentiram demais
Taparam o caminho
Cravaram o espinho
No olho da paz.

E vão noite e dia
Matando a alegria
Fazendo arruaça
Traindo o povão
Botando espião
Na roça e na praça.

Espalham o medo
Inventam segredo
Pra gente não ver
Seus roubos, seus crimes
Preparam seus times
Pra nunca perder.

Quem são esses "homens"?
Queremos seus nomes
Vamos clarear
Seus cargos ou partido
O povo reunido
Vai ter que negar.

O País tem jeito
O erro ou defeito
Vai ser concertado
O grande opressor
Que nos enganou
Vai ser derrotado.

Ali na esquina
Estrela menina
Acena pra gente
E todos vão ver
No pó do poder
Brotar a semente.

Autor: Zé Vicente - Ce

O FMI DESEJA UM FELIZ 2010... PARA OS SOBREVIVENTES DE 2009!

A crise global do capitalismo "está longe de acabar", afirmou o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, acrescentando que, apesar de alguns sinais positivos na economia estadunidense, ainda teremos pela frente um longo período de dificuldades econômicas.

O FMI, que três meses atrás projetava um aumento do PIB mundial da ordem de 0,5% em 2009, agora prevê que o crescimento será, pelo contrário, negativo: -1,3%.

Com isto, até 90 milhões de seres humanos passarão a vegetar na extrema pobreza, tendo de viver com menos de US$ 1,25 por dia.

Os fragelados de 2009 vão somar-se aos 100 milhões de sofredores que as crises dos alimentos e dos combustíveis conduziram à miséria no ano passado.

"A economia mundial atravessa uma grande recessão causada por uma crise financeira em massa e uma perda de confiança aguda", avaliou o FMI em seu recém-divulgado Panorama Econômico Mundial.

Segundo o estudo, a recuperação da economia mundial ficou para 2010 e será "somente parcial", alavancada pelos países emergentes e em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, a estagnação deverá persistir.

Quanto aos alardeados Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (metas estabelecidas em 2000 pelos países membros da ONU), já foram para o espaço, segundo o documento: ao ritmo atual, os países em desenvolvimento serão incapazes de alcançar a maioria dos objetivos propostos, entre eles a redução das taxas de mortalidade, o desenvolvimento da educação e o progresso do combate à proliferação de doenças como aids e malária.


Celso Lungaretti

1 de maio de 2009

MÚSICA DE TRABALHO

Sem trabalho eu não sou nada
Não tenho dignidade
Não sinto o meu valor
Não tenho identidade
Mas o que eu tenho
É só um emprego
E um salário miserável
Eu tenho o meu ofício
Que me cansa de verdade
Tem gente que não tem nada
E outros que tem mais do que precisam
Tem gente que não quer saber de trabalhar
Mas quando chega o fim do dia
Eu só penso em descansar
E voltar p'rá casa pros teus braços
Quem sabe esquecer um pouco
De todo o meu cansaço
Nossa vida não é boa
E nem podemos reclamar
Sei que existe injustiça
Eu sei o que acontece
Tenho medo da polícia
Eu sei o que acontece
Se você não segue as ordens
Se você não obedece
E não suporta o sofrimento
Está destinado a miséria
Mas isso eu não aceito
Eu sei o que acontece
Mas isso eu não aceito
Eu sei o que acontece
E quando chega o fim do dia
Eu só penso em descansar
E voltar p'rá casa pros teus braços
Quem sabe esquecer um pouco
Do pouco que não temos
Quem sabe esquecer um pouco
De tudo que não sabemos.

RENATO RUSSO

CRUEL

Tudo cruel tudo sistema torre babel falso dilema
é uma dor que não esconde seu papel
morro borel.
Eu subo e nunca estou no céu
tudo João nada na mesa
deu no jornal mãos na cabeça
um marginal que já não pode mais fugir
vai reagir.
Menino é bom ficar de olho aí!
Que tudo é desse mundo
surpresa também
espinho é bem mais fundo destino também o amor tá quase mudo
minha voz também
cruel é isso tudo.
Tudo tão mal tão sem beleza
doce de sal lágrima presa
o que eles falam não se deve nem ouvir
verbo mentir.
Menino é bom ficar de olho aí.

Sérgio Sampaio