20 de setembro de 2011

Cordel para Cid

No Ceará a luta dos professores em greve também é feita em cordel
Os professores da rede estadual do Ceará estão em greve e a luta em defesa da valorização do magistério e em defesa da educação naturalmente transborda para a luta contra o governo, que no Ceará tem à frente o psbista Cid Gomes e o apoio incondicional do PT. Para enfrentá-lo os professores não só vem parando as aulas e tomando as ruas, mas também ocupam as letras e as linhas do Cordel.

O que publicamos a seguir chama-se "Cordel para Cid" escrito pelo professor Francinilto Almeida de Tabuleiro do Norte no Ceará.

1.
Em discursos de políticos
Há certas prioridades
Dentre as quais EDUCAÇÃO
Incluem essas “beldades”
Mas o que se vê de fato
É um grande desacato
Recheado de maldades.

2.
O Piso do Magistério
Como Lei Nacional
Surgiu em 2009
Regra Constitucional
Mas alguns governadores
“Amigos” dos professores
Buscaram o Tribunal.

3.
Entretanto o STF
Com visão mais ampliada
Disse “Não!” aos “amiguinhos”
Daquela grande empreitada
O Piso Salarial
Já é Lei Nacional
Precisa ser respeitada.

4.
Mas não é isso o que vemos
Garanto, posso afirmar.
Sou professor e me negam
Essa Lei tão exemplar
São interesses mesquinhos
Desses nossos “amiguinhos”
Que brincam de governar.

5.
Dos Estados do Nordeste
É somente o Ceará
Que desobedece o Piso
E fica no deus-dará
Pois o Sr. Cid Gomes
É um dos ilustres nomes
Que contra essa Lei está.

6.
E como se não bastasse
Andando na contramão
Ele fica com gracinhas
Sem a menor atração
Nem percebe o desmantelo
Devido à falta de zelo
Com a “pobre” Educação.

7.
Nunca se viu nesse Estado
Um jogo tão inclemente:
Dividiu-se a Escola Pública
Da forma mais indecente
Uns são privilegiados
Ricamente bem tratados
Inscrição: SOU COMPETENTE.

8.
No lado esquerdo, porém
Estão os discriminados...
Tentaram, fizeram testes...
Mas foram, sim, reprovados.
Então não podem tocar
Desse mais fino manjar
Dos “deuses” bem educados.

9.
E são dois tipos de IMPOSTOS?
Eu me ponho a perguntar.
Por que este é escolhido
Sem que aquele possa entrar?
Uns têm muitas regalias
Sentem-se reis em folias,
Outros vivem a penar.

10.
Denuncio com firmeza
Esse abuso insolente
Minha escola, lado-a-lado
De uma ESCOLA COMPETENTE
Não temos quadra, sequer
Nós somos, sim, da ralé
Inscrição: INCOMPETENTE.

11.
Será que existe algum pai
Alguma mãe tão sofrida
Que não queiram profissão
Nessa amargurada vida
Para os seus filhos amados
De novo assim massacrados
Por uma regra indevida?

12.
Isso tudo só se dá
Para efeito camuflado
Pois nosso Governador
O que quer é resultado
As escolas oprimidas
Por certo serão supridas
Pelas do “recheio” amado.

13.
Não somos contra as escolas
Que ensinam a profissão.
Estamos insatisfeitos
Com a discriminação
Os direitos são iguais
Ninguém é menos nem mais
Em termos de educação.

14.
Além dessas injustiças
Sem cumprir a Lei do Piso
O professor corre o risco
De também perder o siso
Pois nosso Governador
Aumentando a nossa dor
Acha mesmo que é preciso.

15.
“Ensina quem tem amor”
“Nem carreira existiria”
“Por que fizeram concurso?”
São frases de maestria
Que o nosso Governador
Com carinho e com amor
Solta a plena luz do dia.

16.
E Vossa Excelência diz:
“Ensina quem tem amor...”
Pois é isto o que não falta
Na vida de um professor
O que falta é dignidade
Por parte da autoridade
Isto, sim, Governador.

17.
Não sabe Vossa Excelência
A rotina que mantém
Um professor que se preza
Na carreira que convém
Somente com muito amor
Mesmo com o Governador
Sugando o pouco que tem.

18.
Esse desprezo que vemos
Com palavras tão cruéis
Mostra a sua ingratidão
Com profissionais fiéis
Pois professor é amigo
É pai, é mãe é abrigo...
São muitos os seus papéis.

19.
São eles no dia a dia
Dando exemplos de bondade
Moldando comportamentos
Encaminhando à verdade
Ensinando o bem viver
Fazendo o país crescer
Erguendo a humanidade.

20.
Vossa Excelência não sabe
A sobrecarga que tem
Uma professora-mãe
Guerreira como ninguém
Depois de longa jornada
Assiste à família amada
Disposta como convém.

21.
Quantos professores vivem
Sem dispor de um bom lazer
Pois são tantas as tarefas
Restando para fazer
Isto porque nossas leis
Não nos dão a voz e vez
Para o quadro reverter.

22
Quem é que nesse mundo
Progride sem professor?
Que mundo pode existir
Sem a profissão do amor?
Será que Vossa Excelência
Nunca sofreu influência
De um deles, Governador?

23.
Nós queremos mais respeito
Com a nossa profissão
Ela é quem muda os rumos
Dessa e de qualquer nação
Só alguém estabanado
Olha bem desconfiado
Pra SENHORA EDUCAÇÃO.

24
Ela rege o Universo
Faz conquistas envolventes
Muda qualquer panorama
Deixa as coisas diferentes...
Se não há educação
Não existe evolução
Seremos, sim, indigentes.

25.
Será que é muito difícil
Perceber nosso valor?
Educação é a base
Digo isso aonde eu for
Sem a nossa profissão
Não existia outra, não
Sequer de Governador.

- FIM -

18 de setembro de 2011


SANTUÁRIO INTERIOR (poema)






SANTUÁRIO INTERIOR


Cada um é em si um Santuário Interior imensurável
podendo manisfestar sua sanidade
ou a sobrenatural insanidade.

Em cada ser existe uma tensão
entre as dimensões reais do pensamento e da ação,
entre o pessoal e o social.

Somos os lugares mais sagrados
que guardamos o espaço-tempo verdadeiro
com meta humanizante
rumo ao ponto santificante.

Nossa ação é convergente ao cume universal
assim como nossa existência é de peregrino vivencial.

Em nossa condição inacessível da essência
não há ninguém capaz de julgar,
e no profundo silêncio da meditação
o núcleo do nosso ser mergulha no ínfimo universo.

5 de setembro de 2011

Maria Clara Lucchetti Bingemer

Bingemer é teóloga, professora
Entrevista em Versos


“Entrevista em Versos” é o mais novo instante poético do Lenitivo. Por aqui, encontrar-se-ão perguntas dos poetas de ontem com as respostas dos poetas de hoje numa busca cálida de unir os distantes que estão próximos e os próximos que estão distantes. Neste propósito, deseja-se alcançar, por meio de cada pensamento, de cada ensinamento, de cada pergunta em verso, os sonhos, os desejos e os ideais repletos de sensibilidade, de certeza, que possa nos fazer compreender que fomos e estamos neste mundo para viver e viver em coercitiva comunhão. Para inaugurar este instante, convidamos a professora da PUC-Rio e autora do livro “Simone Weil e a filosofia” (PUC-Rio/Loyola)”, Maria Clara Lucchetti Bingemer. Comecemos! Com a palavra, Mário Quintana:  _A vaca natural e simples como a primeira canção. A vaca, se cantasse, Que cantaria?
Maria Clara: Cantaria a beleza de sua existência e a ação de graças ao Criador que a fez.
Diante de tão fervoroso acreditar, eis que nos surge a subjetividade, e a acidez leve, porém profunda, de Cecília Meireles: _De que serviu tecer flores pelas areias do chão, se havia gente dormindo sobre o próprio coração?
Maria Clara: A poetisa Cecilia Meireles diz muito bem e belamente que não se deve dormir sobre o próprio coração. As flores tecidas pelo chão devem fazer um leito de beleza onde é preciso trabalhar, amar, e não dormir.
E por falar em trabalho, amor e não dormir, quem não dormiu na busca sempre viva de acreditar no construir de um despertar digno foi... Rosa Lee Parks : “As pessoas sempre dizem que eu não dei meu lugar porque estava cansada, mas não é verdade. Eu não estava cansada fisicamente, ou mais cansada do que habitualmente estava após um dia de trabalho. Eu não era velha... tinha 42 anos. Não, eu só estava cansada de sempre conceder”.
Maria Clara: O que Rosa Parks fez deveria ser feito por todo mundo para chamar a atenção sobre leis que são injustas.
Infelizmente, as pessoas de todo o mundo nada fazem, ou pouco fazem, ou pior, apenas vivem, como ressalta Affonso Romano de Sant'Anna:
_E assim cada qual mente industrial? mente, mente partidária? mente, mente incivil? mente, mente tropical? mente, mente incontinente? mente, mente hereditária? mente, mente, mente, mente.
Maria Clara: A mentira é algo muito presente nos dias de hoje. A corrupção que faz tantos estragos na vida nacional é fruto da mentira
Será? A vida nacional é isso. Não pode ser. Eu me recuso acreditar que a vida é isso. Ainda bem que existem muitas Rosas pelo mundo, como, por exemplo, aquela da Polônia: Rosa Luxemburgo.
_ Há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a construir. Mas nós conseguiremos, jovens amigos, não é verdade?
Maria Clara: É importante, como diz Rosa Luxemburgo, manter acesa a chama da esperança de que se vai conseguir construir um mundo melhor.

• No segundo “Entrevista em Versos”:  Renato Roseno.

Em breve Galeria 7-21 de arte no Crato