30 de outubro de 2010


Ah que saudade da maresia

Da ventania que corria sobre o cais

Ah, saudade daqueles tempos

Que corria sem medo de encontrar

Saudade do céu azul que hoje é cinza

do cheiro de terra molhada

e o prazer em viver que eu sentia

de olhar no porto

sendo louca, esperando o teu barco chegar.

Ah, porque não voltaste para meus braços

Como antes fazia, quando me olhavas ao longe

No mar me comia e eu delirava com seu olhar.

Porque se deixou naufragar,

me deixando ao relento

a beira do mar.


Bia Magalhães

29 de outubro de 2010

João da Cruz e Souza

Intolerância e incompreensão. São dois atributos que definem o que fizeram com o maior representante do simbolismo brasileiro: João da Cruz e Souza. Nascido na ilha que é hoje conhecida como Florianópolis, Cruz e Souza morreu dois anos antes da virada do século XX, mas antes deixou um legado de poesia que tem sido resgatado depois de passado, aproximadamente, longos cem anos do seu passamento. Sabe-se que o poeta simbolista enclausura-se no seu ideal de poesia e não se deixa contaminar pelo desencantamento que é viver num mundo de guerras constantes e conflitos intensos. No caso de Cruz e Souza, é provável que esta regra também seja válida. Ainda assim, essa característica não diminui a importância da sua poesia para a literatura. O livro Broqueis, datado de 1893 reúne alguns dos mais relevantes poemas do simbolismo no Brasil. “Antífona”, é o poema que inaugura o livro e visa sintetizar o sentimento dessa corrente literária. Nunca é demais lembrar que o místico e o espiritual sempre foram uma constante tanto na poética de Cruz e Souza como nos demais poetas que figuraram neste estilo fundamentalmente poético. Digno de nota é a curiosa inovação ocorrida e consagrada no simbolismo. O emprego de letras maiúsculas no meio de versos. Como se pode constatar na obra do poeta que ficou conhecido como o “*Cisne Negro”. Confira, abaixo, a última estrofe do poema Antífona.

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,

Nos turbilhões quiméricos do Sonho,

Passe, cantando, ante o perfil medonho

E o tropel cabalístico da Morte...

22 de outubro de 2010

Camaradas: Michael Lowy hoje no PSOL Ce.

Camaradas: Michael Lowy hoje no PSOL Ce.: "Agenda de Michael Löwy hoje em Fortaleza 22/10 (sexta-feira) – Auditório do Departamento de História da UFC às 14h Tema: “O Marxism..."

Camaradas: AMBEV persegue sindicalista de luta, Joaquim "Boc...

Camaradas: AMBEV persegue sindicalista de luta, Joaquim "Boc...: " Normal 0 21 false false false PT-BR X-NONE X-NONE ..."

José Arbex renuncia ao Conselho Editorial do Jornal Brasil de Fato

Car@s

Acabo de ler a versão virtual da tiragem especial sobre eleições.

Tenho dois comentários e algumas considerações:

1. Tecnicamente, o jornal atingiu o auge. A apresentação está tecnicamente perfeita, bonita, agradável, acessível.
2. Politicamente, o jornal também atingiu o auge, no sentido de ter chegado a um limite: não se trata mais de um jornal, mas sim de um panfleto especial sobre as eleições. Para mim, isso significa a morte do jornal Brasil de Fato e o nascimento oficial de mais um órgão chapa branca. Um órgão tecnicamente perfeito, mas politicamente subordinado ao lulismo.

Sem entrar no mérito das posições, é conhecido o fato de que vários setores da esquerda não apoiam a candidatura Dilma, embora sejam contrários à candidatura Serra. Plínio de Arruda Sampaio, por exemplo, acaba de lançar um manifesto propondo o voto nulo. Eu mesmo me manifestei contrário ao apoio a Dilma, embora não tenha defendido o voto nulo. E a posição dos companheiros da Refundação Comunista é favorável ao voto em Dilma, mas com todos os "mas", "senões" e "talvez" que desaparecem da edição especial: o lema da Refundação, se não estou enganado, é: "derrotar Serra nas urnas e a Dilma nas ruas", o que está longe de transformar Dilma em ícone da redenção nacional (coisa que a edição especial faz, na pratica, sem o menor pudor).

O jornal Brasil de Fato, obviamente, só considera digna de publicação no especial sobre as eleições a posição que apoia explicitamente a candidatura Dilma. O jornal Brasil de Fato, ao fazê-lo, pratica a mesma operação que Altamiro Borges corretamente critica na própria edição especial, só que inverte o sinal: o Brasil de Fato se torna um palanque para a Dilma, precisamente como a "grande mídia" é um palanque de Serra. Pior ainda: ao considerar legítima e merecedora de publicação apenas uma determinada posição, descartando liminarmente todas as outras que existem no interior do Conselho Editorial, o jornal passa a impressão pública (exposta em 2 milhões de exemplares) de que há uma unanimidade no interior do conselho: trata-se de uma prática sórdida e bem conhecida, consagrada na época que um certo Josef comandava o regime de terror na URSS.

Diante disso, minha posição na Conselho Editorial se torna insustentável. Sei que ocorreu algo semelhante em 2006, mas voltei a integrar o jornal, na época, por considerar que o MST era muito maior, muito mais importante, muito mais vital do que eventuais divergências. Só que a situação agora é qualitativamente nova. O jornal Brasil de Fato transformou-se num planfletão lulista, e isso marca – na minha opinião, obviamente - reflexo de um processo de desmantelamento histórico do MST e de ruptura de uma boa parte da esquerda com sua própria história e princípios éticos. Trata-se de uma debandada tão grande e imunda que permite, entre outras coisas, que lideranças da "esquerda" declarem sem ruborizar o seu apoio ao agronegócio, à aliança com os neocompanheiros José Sarney e Michel Temer e o acobertamento cúmplice e conivente de manobras sórdidas nos corredores palacianos.

Já abordei várias vezes esse tema em reunião do Conselho Editorial e nunca fui levado suficientemente a sério. O MST, que era – sempre na minha opinião – o último grande bastião de resistência à cooptação oficial, está claramente sendo triturado pela máquina do Estado terrorista brasileiro, agora operada pelo lulismo. E tudo em nome do... "combate à direita"! A frase "Dilma não é o governo dos nossos sonhos, mas Serra é o governo de nossos pesadelos", que consagra a posição editorial assumida pelo jornal, pode ser um bom achado de marketing, um ótimo recurso de oratória, uma bela saída para escapar de um dilema político. Mas se o critério for a boa oratória, que se convoque então Carlos Lacerda. Ele tem ótimas lições a dar nesse campo.

Não vou ser cúmplice disso. Nesse mesmo sentido – e embora não seja essa lista o palco para esse debate – coloco em questão a legitimidade de minha permanência à frente da Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes (e por isso envio esta carta com cópia à diretoria da AAENFF, a quem peço que remete ao conjunto de seus associados). Encaminho também a algumas outras listas, para que se marque publicamente a minha ruptura com esse trágico desfecho.

Aos vencedores, as batatas.

Abs

jose arbex

link do jornal:

http://www.brasildefato.com.br/node/4460

17 de outubro de 2010

            DENTRO  DO  SER


     Além da exosfera,
espaço cósmico sem ar,
se estende o pensamento sem medida,
vislumbra algo que se espera,
expande no infinito solar,
busca os mistérios da vida,
procura tão longe o que dentro do ser impera.


     Escondido no próprio ser
está o que tanto procura
o Ser Superior e eterno,
imortal espírito que tudo vê,
o princípio que fecunda,
o bem, a verdade, o belo,
o sentido que faz crer.

11 de outubro de 2010

Poema de Leonardo Sampaio/por Nina Gonçalves

Eu vi na minha terra natal

A garota mais bela do lugar

De corpo lindo e perfeito

E faceira no andar

Com belos olhos castanhos

Pra todos admirar.

Mais havia grande defeito

Para o povo daquele lugar

Porque tinha pele negra

Não podia se misturar

Com as minas de cor branca

Nem ao menos coroar

A santa virgem Maria.

Porém um dia resolveram

A negra virar anjo

E de branco lhe pintaram

E colocaram-na no altar

Todos queriam saber

Quem era aquela donzela

Com tanta simpatia

De onde ela viera

Parecendo a virgem Maria.

Na hora de coroar

Os panos dessem no braço

E a pele preta aparece

Virou um grande alvoroço

A festa da coroação

Queriam saber agora

Quem falsificou o anjo

Como pode uma negra dessa

Coroar nossa senhora?

Naquele momento então

O racismo prevaleceu

A menina foi escondida

Porque o público correu

Para o lado do altar

Querendo lhe crucificar

Do jeito que Jesus morreu.

Essa história é verdadeira

Em Abaiara foi o canto

No Cariri do Ceará

Onde uma negra com seu manto

Fez um grande milagre

Com a hóstia saindo sangue

Mas o padre é quem vira santo.