15 de setembro de 2009

DESENCANTO

O poema abaixo ilustra uma da mais perfeitas páginas da literatura brasileira. Seu autor é Manuel Carneiro de Sousa Bandeira, poeta que apoiou em 1922, a badalada semana de arte moderna, com o poema Os Sapos, que foi lido na ocasião, pelo também poeta Ronald de Carvalho.

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira, autor de um dos livros mais completos da literatura no Brasil, "Cinzas das Horas". Seu ecletismo e o amor pela melancolia ajudaram-no, a compor uma poética recheada de versos livres, humor e amargura diante das desigualdades sociais.

2 comentários:

Ternura Sempre...