10 de abril de 2010

A Barbárie


Se um dia alguém chegar aqui neste blog e começar a passar seus olhos por essas palavras eu peço que fique por mais alguns minutos, por favor! Continue caminhando com suas órbitas oculares e deixe essas palavras ganharem voz e vida em você.

Eu fiz isso, percorri palavras de um livro chamado Barber, BR., 2009. Consumido - Como o mercado corrompe crianças, infantiliza adultos e engole cidadãos. Editora Record. Ao fazer isso, “ouvi com meus olhos” (na verdade com o cérebro, claro) as palavras de Benjamin R. Barber, teórico político norteamericano e defensor do capitalismo. Ah! Não do capitalismo atual de consumismo pelo consumismo, com seu núcleo de expressão nos EUA, mas de um tipo de retorno ao “etos protestante”, ou mesmo pela mais pura admiração a obra de Max Weber.

Bem, concordo em grande parte com os seis primeiros capítulos desse livro. Escrevo até que o livro é genial e não vai deixar você respirar até terminá-lo. O capitalismo de consumo é a fase de deterioração de toda natureza humana. A vida para quem pode comprar coisas passou a ser determinada por isso. As pessoas passaram a ser escravas de marcas de fantasia sem qualquer vínculo com suas necessidades reais. “Vestir carrões”, porque o carro é você, ter um tênis de marca famosa, porque a marca reflete esporte, saúde e juventude... Nada disso é real de verdade. Automóveis são máquinas de transporte e roupas são vestes. As fantasias humanas de consumo são loucuras de um primata que perdeu seu lugar na natureza. Um macaco alienado!

Tudo isso você encontrará em Barber (2009). Entretanto, eu ando muito incomodado com outras coisas. Vejamos, quem não lembra no início desta década o quanto estávamos (e ainda estamos) assustados com o aumento da violência? Lembram da análise feita e amplamente divulgada pela mídia? O culpado pela violência são as pessoas que compram armas, estas mesmas armas ao invés de prevenir contra crimes, acabavam nas mãos dos “marginais”. A solução? Criamos o Estatuto do Desarmamento (Lei 10826 de 22 de dezembro de 2003) e lá fomos nós todos envolvidos em uma campanha nacional para entregar as armas domésticas. Sete anos após isso, o crime diminuiu? Olhem só para a foto abaixo e respondam se uma arma doméstica faria isso:

Escrevo em caixa alta para não ser confundido ou mal interpretado: EU NÃO DEFENDO ARMAS EM CASA, EU NÃO TENHO E NÃO VOU COMPRAR ARMA ALGUMA, EU DEFENDO A PAZ PARA TODOS!

Ok, mas onde eu quero chegar então? Simples, o discurso falso e covarde que uma sociedade de pequenos burgueses faz para fugir as suas responsabilidades e continuar em seu mundinho inalterado e tranqüilo, pelo menos assim o desejam.

Vejam as fotos abaixo:

Milhões de pessoas mergulhadas na pobreza, milhões de pessoas como eu e você agredidas por duas ações danosas: (1) a falta de tudo (necessidades reais de sobrevivência e cidadania) e (2) o bombardeio da propaganda que gera necessidades falsas e símbolos do glamour consumista. Primeiro, na falta de tudo, isso, claro, inclui a educação... PRESTE BASTANTE ATENÇÃO NISSO, SEM EDUCAÇÃO = MERGULHAR EM MUNDOS MÍSTICOS TÍPICOS DOS CLÃS PLEISTOCÊNICOS.

Quando falo educação, não é uma escola caindo aos pedaços com professores remunerados com salários mínimos. Educação interpreto aqui como ter consciência do porquê das coisas, ter o mínimo de conhecimento sobre história, política e ciência. Isso constrói uma visão de mundo! Ou seja, sem conhecimentos básicos, esse “ser-no-mundo” continuará vivo, tentando compreender por que a vida é o que é e, mais ainda, qual o seu objetivo.

Preste atenção em você agora! Lembre-se que sua cognição é tão grande que vez por outra você se pega falando com objetos! A televisão com defeito, o livro que abraça com carinho, ou a porta que chuta com raiva. Sua cognição é tão flexível que você pode literalmente AMAR O SEU CARRO, ATÉ MAIS DO QUE OUTRAS PESSOAS... Afinal, tem gente que espanca e mesmo mata outra, por causa de um arranhão, ou amassado na lataria de seu automóvel. Tudo isso não possui vida, tudo isso não irá responder aos seus sentimentos.

Segundo, a propaganda faz parte do narcisismo capitalista, onde os negócios comandam gastos libertinos em falsos desejos, enquanto ignoram as reais necessidades humanas. Somos o que compramos – somos as marcas que consumimos. Comprar e consumir não são um aspecto do comportamento, mas definidores do significado da vida (Barber, 2009).

Muito bem, vamos costurar tudo agora. Milhões de pessoas ignoradas na miséria, entregues à sua própria sorte e agredidas pelos outdoors e comerciais de pessoas brancas felizes em seus condomínios de luxo, dirigindo tanques urbanos, identificadas por símbolos de falso glamour e, nos casos extremos, literalmente comendo ouro com sorvete!

Agora vamos ao cerne das coisas, ok! A classe média é justamente isso: um etos de covardia e falsa propaganda! Primeiro porque sabe tudo que está errado. Uma educação básica deixa todo mundo sabendo que enquanto houver concentração de renda, a miséria de milhões é a origem da violência e destruição do meio ambiente.

Mas, o que vemos na TV, jornais e conversas nas ruas é um contra-senso. A violência é culpa dos cidadãos que compram armas, as enchentes são culpa das pessoas que jogam lixo no chão, o clima está mudando porque usamos sacolas plásticas, ou mesmo ligamos aparelhos eletrônicos. A culpa é minha, a culpa é sua... Nós sabemos disso! Nós sabemos de toda a miséria, dor e desamparo que causamos a milhões de pessoas... das alterações das condições climáticas e recursos naturais essenciais para nossa existência . Todavia, preferimos nos enganar, tipo, “vamos apagar as luzes por MINUTOS para dizer que queremos um mundo melhor!” Ou outra tolice “ hoje [e apenas hoje] eu não vou usar meu carro por um mundo melhor!”

Covardes! Mentirosos! Todos vocês! O dia inteiro, ano após ano, não há descanso ou pausa para o que fazem. Matam destroem tudo com seus hábitos, trancam-se em condomínios de luxo, fazem o chão tremer com seus SUVs, privatizam a saúde pública e acham que minutos com as luzes apagadas está bom para suas consciências?! Olhem mais fotos do que é real:

Isso não irá parar de crescer!!! Sobretudo no mundo capitalista atual.

Voltemos para as duas forças que estão agindo agora nessa massa de milhões de pessoas. Sem educação, o mundo místico toma conta de todas as explicações possíveis. Da alienação vêm as legiões de fanáticos e explodem em nossas portas, basta ter acesso às armas certas e o Jihad vem aí. Afinal, qual é o motivo para os EUA estarem tão dedicados contra o Irã não se tornar uma força atômica? Por que esse interesse pela paz simplesmente não se reflete na extinção de seu próprio armamento nuclear?! Ou por que não há a mesma pressão para todos os países que já são potências nucleares?! É ingênuo pensar assim, não é?! Afinal, império é império, conhecemos a história das políticas e ações (guerras) necessárias para se manter no poder de dominação de outras nações.

O mesmo serve para tudo mais, queimadas, lixo nas ruas, efeito estufa. É de responsabilidade coletiva, de controle coletivo com política de controle realizada pelo estado. Por mais que desejemos individualmente um mundo melhor. A infraestrutura das cidades, transporte coletivo, saúde pública (inclui saneamento), educação, uso racional de recursos não-renováveis, propaganda e marketing e produtos industriais. Tudo isso deve ser controlado por nós coletivamente e nós somos o estado sócio-econômico que construímos.

Se entregarmos o nosso bem estar coletivo nas mãos de desejos individuais sem controle, teremos nosso atual mundo com seus problemas graves e mais a alienação, a infantilização e a destruição da cidadania.

"É proibido proibir"! Ok, mas sem um controle coletivo, nós como indivíduos raramente produziremos uma sociedade saudável. Vejamos, os chimpanzés regulam uns aos outros em sistema de altruísmo recíproco, um “toma-lá-da-cá”, compartilhamento e uso dos recursos. Um macaco egoísta que não divide sua comida e que age apenas para si, terá poucas chances no grupo que é formado por indivíduos cooperativos recíprocos. Em outras palavras, muitas vezes é surrado e expulso do grupo... Caso contrário, não haveria grupo algum formado por chimpanzés egoístas. Viver em grupo para nós símios é prioridade de sobrevivência. Detectar e punir individualistas está em nossa natureza.

Como já escrevi antes aqui, vivemos em um sistema que é contra a nossa natureza humana de empatia, solidariedade e preservação de nosso meio ambiente. As ações individuais de apagar a luz por minutos, não dirigir por um dia, não usar sacola plástica em uma única compra... São apenas desculpas que usamos para aplacar nossa consciência contra todo o mal que sabemos que estamos fazendo.

Digamos que não estamos dispostos a sacrificar nossas vidas para um bem maior. Sacrificar mesmo, em uma revolução de verdade! Nosso povo está mergulhado em alienação de massas, em meio a um sistema sem pátria de consumismo fantasioso e devastador. Ao olhar de frente para essa realidade, esse abismo monstruoso que aumenta dia a dia, muitos já se preparam para o mundo que estamos construindo.

Um mundo que está trancado em condomínios de segurança máxima. Contra o quê? As milhões de pessoas como eu e você que chegam a serem vistas como um exército sem fim e sem controle, de "mortos vivos canibais" do capitalismo sempre à espreita, sempre batendo às portas dos ricos e afortunados!

Vamos controlar as massas com violência... Se precisar, com o exército e todas as suas armas.

Vamos puxar o gatilho de quem já vive fora de nosso mundo de consumo. Afinal, são excedentes descartáveis do sistema.
Chega de conversa fiada sobre “carros econômicos”, nesse novo mundo é bom andar blindado... Ou vocês acham que já não fabricamos carros para andar nas ruas em plena guerra civil?

Isso é a Bárbarie, isso é o mundo que nós vivemos hoje!

Isso lhe faz feliz?!

Como podemos educar nossos filhos na intenção de sermos um tipo de Sarah Conner, mas na prática somos os T-800 Exterminadores do Futuro?!

Os minutos que você apagou a luz na sua casa por um mundo melhor resolverá?

Essas palavras absurdas, escritas por um tolo, cheias de som e fúria... também não valem à pena sem ação!

Isso tudo compõe a barbárie, isso é o mundo que nós vivemos hoje! E não vai parar, não vai partir, não obedece a sonhos, desejos passivos e necessidades.

Se tudo continuar do jeito que está, não há deuses ou demônios que nos salvem de nós mesmos.

VIVER, SOFRER E MORRER... NO CAPITALISMO SELVAGEM E NA BARBÁRIE!!!

Leia também: [clique] Barbárie ou socialismo?

2 comentários:

  1. Queria explicar dois pontos no texto. O primeiro, a lei de desarmamento constitui um tipo de controle coletivo pelo estado... Mas este é capitalista, não é uma expressão verdadeira das massas!

    Esse "controle" na verdade é apenas para disfarçar e até culpar o próprio povo pela violência. Por isso, eu não o considero coletivo... Criado por bases socialistas.

    Toda expressão do capitalismo é sempre pela exclusão, alienação de massas e uso sem freios de recursos naturais. Os verdadeiros tubarões que estão acima de tudo... não defendem pátria alguma. Afinal, capitalismo não tem pátria!

    Como causam um efeito crescente das contradições e a luta de classes se acirra, os ricos de verdade estão em Aspen e no Principado de Mônaco, blindados e esperando que a corja de pequenos burgueses façam o serviço sujo... por um punhado de trocados.

    O segundo ponto, a cognição expandida que me refiro no texto é para demonstrar que podemos viver em mundos com necessidades falsas, apenas de símbolos e mentiras. Essa fragilidade da natureza humana é conhecida e explorada pela propaganda e marcketing do atual capitalismo do hiperconsumo. Por isso, inicio o texto citando Barber (2009), que é um capitalista, mas está muito preocupado com o futuro do sistema e o tipo de sociedade que ele criou.

    Eu concordo apenas com os seis primeiros capítulos (excetuando-se, claro, a admiração dele por Max Weber) do livro de Barber (2009)... e acho pueril demais as propostas de defesa do capitalismo nos últimos dois capítulos.

    Bem, por último, façamos um experimento simples:

    (1) Jogue uma nota, ou moeda no chão. você verá que para natureza aquilo é papel e metal. Em grande parte, é lixo e poluição.

    (2) Jogue apenas um pedacinho de doce no chão. Uma legião de animais irá surgir... Alimento é alimento! Recurso disputado por todos. Isso é a verdade da vida.

    Conclusão:
    Vivemos mergulhados nas mentiras e sofrimento da morte!

    Vamos viver na Revolução!!!

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  2. O mais impressionante é ser o nosso próprio algoz.

    Estou sem palavras.

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