31 de maio de 2011

"Isso é um desrespeito à democracia"

Inicio este artigo explicando o motivo das aspas presentes no título deste então comentário de um profissional indignado e decepcionado pela atitude de um certo presidente, que se arvora tutor dos direitos liberais e senhor das odes escravistas de uma população de intelectuais, os quais sofrem por imposições, distantes em épocas, da ditadura militar, cujo princípio era castrar a intelectualidade dos grandes homens, motivadores de um propenso regímen, o qual vigoraria por muito tempo.

A fala do então presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, dirigida aos profissionais de educação, não a julgo infeliz, como muitos dos jornalistas. Julgo-a insipiente de um homem público e incipiente de líder de uma Casa, por ele comandada, a qual não lhe pertence, mas, ao povo fortalezense que, embora, indiretamente, ali o pôs, sem saber que seria, por ele, negado o direito de defesa. Rui Barbosa, assim disse: O bom ladrão salvou-se, mas, ao juiz “cobarde”, não escaparás do ferrete do inferno. A prevaricação dos magistrados imolou Jesus, assim como a prevaricação dos vereadores, ao se ausentarem da Câmara, lugar de defesa do povo, imolou o princípio democrático tão defendido pela esquerda, a qual hoje se encontra no poder.

“Isso é um desrespeito à democracia”. Indignado, concordo com a fala do presidente. Realmente é um desrespeito à democracia acreditar que o professor é um malfeitor e que dele devem ser protegidos os vereadores descompromissados, que, não por medo, mas por desrespeito e covardia, abandonaram uma sessão pela ordem de seu presidente. Desrespeito à democracia é acreditar que a educação seja rota por irresponsáveis, os quais não mendigam melhorias, mas imploram o cumprimento de uma lei. Irresponsáveis, sim, pois esta é a marca, segundo o presidente, de cinquenta ou cem baderneiros que se encontravam na Câmara Municipal na terça-feira passada. Não mais entendo a matemática, pois para mim o dobro é sempre cem por cento. Equívoco de um presidente despreparado e sem poder de articulação. Neste dia, havia para mais de quatrocentos professores, e não irresponsáveis, ocupando os espaços daquela Casa. Profissionais, pais de família, educadores, os quais dedicam horas ao labor, ao repasse de conhecimento aos seus alunos sobre ética, respeito, disciplina e dignidade. Tais profissionais são, infelizmente, tachados de irresponsáveis. Diante disso, não sei o sentido do vocábulo irresponsável. Por ser estudioso do idioma português, acredito na evolução dos vocábulos, mas confesso, abestalhado, que não compreendo o sentido de irresponsáveis, direcionado a quem se dedica horas ao trabalho de educar.

Como trabalhador, diferentemente do que aponta o presidente da Câmara, quero meus filhos educados por estes profissionais convictos de seus valores, cientes de seus direitos e corretos em suas posturas. Como educador, embora não pertencente à esfera pública, envergonho-me de ter, acreditando ser ideológico, depositado confiança em oportunistas avermelhados, travestidos de ideologias fajutas e de pensamentos stalinistas, cujos princípios resultam em amor ao poder e cuja defesa é blindada com argumentos de que a moeda sempre tem duas faces. A gramática política, da qual Machado de Assis fez uso para expressar o pensamento política da época, faz-se hoje presente na figura de antidemocratas e de neófitos articulistas, os quais, por desconhecimento do princípio democrático, agem como sendo senhores das leis e dos deveres.

Não é democrático afirmar que não fez uso de repressão. Aos 43 anos de idade, vivi pouco a ditadura militar, mas compreendia o significado e significante do signo linguístico “repressão”. Tal vocábulo, comum naquele regímen, não mais pode ser expresso nos dias de hoje. Lembro-me do conceito de ESPADA, a qual nas eras bárbaras representava a força, mas, nas mãos de governantes idôneos, representava a segurança e os direitos de uma nação. Este é, sim, o princípio democrático de um país, o qual respeita a sua identidade, a sua cultura e a sua história. Qualquer ato contrário estará em descompasso com o ordenamento de uma promissora nação. Não devemos, não podemos acatar que, em pleno século XXI, com a derrocada de regímens ditatoriais em todo o planeta, políticos despreparados tenham poder de decisão e atrapalhem o processo democrático de uma nação, a qual sofreu vinte anos de repressão.

“País sem educação é pais desarmado”, dito do então senador Cristóvão Buarque. Compreender esta frase, sim, é democracia. Fora disso, é dissimulação, enganação e prevaricação dos que devem proteger e respeitar a Constituição deste País.

Não me surpreenderia, pelas falas do então presidente da Câmara, ao defender a segurança de seus vereadores, a imposição da força. E aí cairia em terra o adágio da esquerda “a polícia é para proteger o cidadão e não para dar porrada em trabalhadores.” Que a Guarda Municipal não seja utilizada para bater em intelectuais e educadores, os quais nada reivindicam, apenas cobram da prefeita o cumprimento da lei.

Marcelo Braga. O Estado, 31.05.2011

2 comentários:

  1. Concordo plenamente com o pensamento expressado.
    Já fiz parte da GMF,e entristeci-me ao ver que nada mudou,principalmente no que diz respeito à truculência e violência desnecessárias.No nosso país temos que ter coragem,mas muita mesmo para reivindicar qualquer coisa,pois se lutamos por nossos direitos,estamos propensos a ser chamados de loucos,sermos tratados com desrespeito,e creio que ninguém torna-se mártir por querer!
    Quando eu fazia parte da GMF,era considerado loucura relatar alguma atitude estúpida(nesse caso utilizei o nome mais suave) advinda de colegas;vc poderia até ser visto como "traidor,desertor"...Soa como exagero,mas é verdade.
    O que não poderemos nunca é ficar calados e aceitar.
    Mas nunca esquecendo de exemplos,sendo o último o casal assassinado por denunciar o desmatamento nas nossas florestas.
    Exagero meu? Será? ...

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