14 de junho de 2009

Cyrano de Bergerac

( de Edmond Rostand)

Que queres que eu te faça?
Que vá ver um patrono em voga, um protetor,
E — como hera servil que em busca de um tutor
Lambe a casca do tronco em roda ao qual se torça —
Cresça por manha, em vez de me elevar por força? Obrigado.
Ofertar meus versos a um banqueiro,
Como é vulgar?
Fazer do vil pantomimeiro
Na esperança de ver nos lábios dum ministro
Sorriso que não tenha uns longes de sinistro?
Almoçar cada dia um sapo — e não ter nojo,
Gastar o próprio ventre a caminhar de rojo?
Obrigado.
Trazer os joelhos encardidos?
Exercitar a espinha em todos os sentidos?
Obrigado.
Acender um círio a São Miguel
E acender outro círio ao réprobo Lusbel?
Libertar o galé, com medo do patíbulo?
Andar a cada canto e sempre em turíbulo?
Obrigado.
Galgar trapézios de acrobata?
Ser um grande homenzinho em roda aristocrata?
Remar com os madrigais, e ter as bujarronas
Túmidas dos senis suspiros das matronas?
Obrigado.
Gozar de sermos editados
Pelo editor Sercy... pagando-lhe?
Obrigado.
Ser escolhido papa em todos os conclaves
Feitos por imbecis tão nulos quanto graves?
Obrigado.
Assentar meu nome e posição
Num tal soneto, em vez de fazer outros?
Não! Obrigado.
Encontrar talento nos sendeiros,
Aterrar-me de ouvir estranhos noveleiros,
E sentir um prazer na reles esperança
De ter qualquer menção no Mercúrio de França?
Obrigado.
Antepor — de medo e covardia —
Salamaleque infame a rútila poesia?
Redigir petições e pertencer a alguém?
Obrigado! Obrigado! Obrigado!...
Porém Cantar, sonhar, passar, ter liberdade e fibra,
Ter a vista segura, e ter a voz que vibra,
Pôr o meu feltro à banda, e — espanto dos perversos —
Por um sim por um não bater-me, ou fazer versos;
Trabalhar, sem ter fito em lucros e honrarias.
Numa excursão à lua e noutras fantasias!
Nada escrever jamais que eu mesmo não produza,
E, modesto, dizer à minha altiva musa:
"Seja do teu pomar — teu próprio — o que tu colhas
Embora fruto, flor ou simplesmente folhas".
Depois, se acaso a glória entrar pela janela,
A César não dever a mínima parcela,
Guardar para mim mesmo a gratidão mais pura;
Enfim, sem ser a hera — a parasita obscura —
Nem o carvalho e o til — gigantes do caminho —
Subir, não muito, sim, porém subir sozinho.

Amei este poema quando assisiti Cyrano. Mas, no filme há modificações. De qualquer forma, eu me rendo!

2 comentários:

Ternura Sempre...