“Arte
é um fenômeno essencialmente social”
(Oliveira Júnior)
Não suporto
mais este “ensurdecedor silêncio” que se estende por sobre a humanidade
justamente num momento em que gritar é mais urgente. Estou perplexo ao ver a
raça humana recriando dissabores e fazendo a próspera ambição brotar como se
fosse espiga em tempos de colheita no milharal.
Posso ser
intransigente e talvez até irredutível, sobretudo, quando insisto em afirmar
que as pessoas, inclusive este que escreve, parecem que estão num invólucro de
sonolência e alienação.
Mas de fato, e
a história está aí pra confirmar, é que no passado, os artistas, intelectuais e
estudantes não se deixavam calar ( e olhe que não é minha intenção ser
saudosista) prova disso foram os diversos artistas e movimentos sociais que
surgiram no tempo em que nosso povo enfrentou o período de exceção.
Digo exceção,
porque na realidade, ainda vivemos numa ferrenha ditadura disfarçada de
democracia representativa onde se morre a míngua apesar de tantos avanços
tecnológicos, tudo isso, por causa de uma concentração de renda mesquinha que
só visa o lucro e não se importa em nenhum instante, em valorizar a vida, seja
esta do Planeta ou dos animais que nele habitam.
Todo este
cenário de penúria ratificada e covardia dedilhada, faz-me lembrar do genial
José Saramago e seu “Ensaio sobre a cegueira”, narrativa que busca criticar a
moderna sociedade portuguesa. Considero eu, que esta obra é um pertinente caso
a parte, que não figura nos rol das obras apequenadas ou de conteúdo que tenta
maquiar a crudelíssima situação em que está submetida a classe trabalhadora
através de “lipossociais” em que nem a mais atrevida plástica cirúrgica realizada
por Ivo Pitangui ousaria disfarçar.
Interessante
notar, neste livro de Saramago é que as personagens não são identificadas pelo
seu nome, mas pelo cargo que ocupa no meio social, tal e qual como a gente faz
no nosso dia a dia, às vezes sem perceber: “_É Joana. _Quem? _Aquela loirinha
que tem trejeitos de homem _ Ah... sei quem é.”
Assim como as personagens
de “Ensaio sobre a cegueira” nós seguimos desmatando florestas, matando sonhos,
materializando e consumindo sentimentos, valorizando dores e pensando que “Há remédio para tudo menos para o Capitalismo.”
Ternura Sempre!
Razek Seravhat
Prezado Razek,
ResponderExcluirLúcidas suas reflexões e lamentável saber que a indústria cultural vive em função de tentar transformar a arte em mercadoria. Enxergar é um desafio em terra de tantos cegos.
Gostei da fundamentação a partir da bela narrativa de José Saramago.Interessante observar que no "Ensaio sobre a cegueira", a mulher do médico era a única que podia ver diante de tantos cegos. Isso foi um desafio a mais na medida em que ela não se aproveitou da suposta vantagem para subordinar, tirar proveito do próximo.
Por outro lado, também nesta mesma narrativa, vemos os cegos que já dominavam a técnica do braile fazerem uso desta para subordinar os demais cegos que não tinham o referido conhecimento, outra metáfora do mundo contemporâneo que nos proporciona uma reflexão acerca da a subversão de valores humanos, em função da degradação do outro.
Enfim, "em terra de cego quem tem olho é rei?" Enxergar é uma condição humana das mais exigentes e a arte nem sempre é o que nos apresentam nos fatídicos concursos de poesia ou nos programas de auditório dos domingões. Há arte de qualidade sim e enquanto o ser humano for de carne e osso seremos capazes de nos alimentar da arte e fazer da poesia uma forma de reflexão de nossa realidade.
De acordo.
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